Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

ENDOCARDITE DE VALVA NATIVA POR CANDIDA ORTHOPSILOSIS DE DIFÍCIL TRATAMENTO – UM RELATO DE CASO

  • Pedro Antônio Passos Amorim,
  • Adriana Oliveira Guilarde,
  • Lisia Gomes Martins de Moura Tomich,
  • Luiz Felipe Silveira Sales,
  • Duanny Lorena Bueno Machado

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 103281

Abstract

Read online

Introdução: A endocardite fúngica por espécies do complexo Candida parapsilosis representa cerca de 1% de todos os casos de Endocardite Infecciosa (EI). A EI fúngica em valva nativa é incomum, mas pode ocorrer na presença de fatores de risco como imunossupressão e portadores de dispositivos intravasculares. Apresentamos um caso grave de EI por Candida orthopsilosis, uma espécie pouco descrita neste cenário. Relato: Uma paciente do sexo feminino, 18 anos, com história de doença renal crônica, estava há 1 ano em hemodiálise através de cateter tipo Shilley. Foi admitida em UTI com relato de que, há 3 semanas, apresentava calafrios e febre durante sessões de diálise e sinais de instabilidade hemodinâmica. O exame físico revelou sopro cardíaco, hepatoesplenomegalia e hiperemia em sítio do cateter. Paciente com trombose em outros possíveis sítios para punção venosa. O dispositivo foi removido e iniciada antibioticoterapia de amplo espectro. Nas primeiras 48h de internação laboratório identificou Candida orthopsilosis em amostras de hemoculturas, sendo então suspenso antibióticos e iniciada micafungina 150 mg ao dia guiado por teste de sensibilidade. Durante manejo inicial, ecocardiograma transtorácico evidenciou imagem ecodensa e móvel, em valva tricúspide, medindo 14 × 8 mm, sugestiva de vegetação. Além disso, havia sinais de embolização séptica em tomografias computadorizadas de tórax e abdome. Não apresentou endoftalmite. Permaneceu com quadro febril e hemoculturas persistentemente positivas após 1 semana de tratamento. Paciente foi submetida a troca da valva cardíaca, tratamento foi modificado para anfotericina e fluconazol. Mantido azótico por mais 6 semanas até negativação da hemocultura, finalizando 12 semanas de tratamento. A mesma cepa de Candida orthopsilosis foi isolada do material intraoperatório da valva afetada. Conclusão: A EI fúngica por Candida, apesar de pouco relatada, tem tido um aumento na incidência dos casos. A Candida orthopsilosis apresenta sensibilidade aos azólicos, poliênicos e equinocandinas, mas em nosso caso foi necessário a terapia combinada por aumento da concentração inibitória mínima para micanfungina no decorrer do tratamento. Considerando a alta morbimortalidade destas infecções fúngicas, o diagnóstico precoce tem modificado positivamente o desfecho clínico. Acredita-se que o tratamento prolongado e o controle do foco infeccioso sejam a base para o manejo de sucesso da EI complicada como apresentado em nosso relato.

Keywords