Revista Brasileira de Farmácia Hospitalar e Serviços de Saúde (Sep 2023)
A ausência de unidades dispensadoras de medicamentos em municípios pode influenciar no abandono ao tratamento por pessoas vivendo com HIV/AIDS?
Abstract
Objetivo: verificar a existência de associação entre o abandono à terapia antirretroviral (TARV) por PVHA e a não disponibilização de serviço de dispensação em municípios situados na região Sul do Brasil. Métodos: estudo exploratório e analítico, realizado a partir de registros de Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (PVHA) em abandono de TARV residentes na região Sul do Brasil. Incluiu-se o registro de indivíduos que estavam há, pelo menos, cem dias sem retirar medicamentos. Os dados foram coletados por meio do Sistema de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM), Sistema de Monitoramento Clínico das Pessoas Vivendo com HIV/AIDS (SIMC) e Sistema de Controle de Exames Laboratoriais (SISCEL), no período de outubro a novembro de 2022, referentes aos registros de usuários datados entre 1986 a 2022. Resultados: foram checados os registros de 21.861 usuários. A média de abandono foi 814±831,7 dias, com variação entre 101 a 4.276 dias. A maioria das PVHA em TARV residia no Rio Grande do Sul (n=10.951; 50,1%), uma das Unidades da Federação que apresenta maior incidência de AIDS. Com relação às demais características sociodemográficas, revelou-se que a maioria era do sexo masculino (n=12.300; 56,4%), residente no interior (n=15.905; 72,8%), com faixa etária média de idade de 42,1±13,0, raça/cor branca (n=13.053; 59,7%) e com escolaridade de 4 a 7 anos de estudo (n=6.192; 28,3%). O tempo médio de uso da TARV foi de 7,9±2,1 anos, e 49,0% (n=10.718) das PVHA antes do abandono do tratamento estavam com a carga viral indetectável (<50 cópias/mm3). Em paralelo a isso, foi observado que os participantes da pesquisa que moravam em municípios que não possuíam Unidades Dispensadoras de Medicamentos (UDM) (p<0,02) apresentavam 14,9% (IC 14,5 – 15,3) maior chance de abandonar sua terapia quando comparados aos que residiam em cidades que possuíam serviço de dispensação de antirretrovirais. Conclusão: esses achados apontaram que o abandono à TARV por PVHA pode ter uma associação com a distribuição espacial das UDM. Para tanto, descentralizar o acesso aos antirretrovirais é uma estratégia que poderá repercutir positivamente na qualidade de vida e aumentar o tempo de sobrevida dos pacientes da região Sul do Brasil.