Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

O POTENCIAL DA TERAPIA COM CÉLULAS CAR T NO TRATAMENTO DE MIELOMA MÚLTIPLO: REVISÃO SISTEMÁTICA

  • GM Guedes,
  • LS Salgarello,
  • MF Rezende,
  • LO Campos,
  • MAA Assunção

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S535

Abstract

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Objetivos: A terapia com células CAR T (Chimeric Antigen Receptor T-Cell) é um promissor tratamento para o mieloma múltiplo (MM). Modificando geneticamente células T para atacar células tumorais específicas, ela mostra resultados significativos em pacientes refratários às abordagens convencionais, trazendo esperanças no manejo do MM. Assim, objetiva-se sistematizar os resultados sobre o perfil dos pacientes em que a terapia é benéfica. Material e métodos: Realizou-se uma revisão sistemática da literatura com artigos completos e gratuitos em inglês e português dos últimos 3 anos, nas bases PubMed e SciELO, utilizando Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e operadores booleanos: “CAR-T cells therapy” OR “Immunotherapy” AND “Multiple Myeloma”. Resultados: Os 8 artigos selecionados demonstraram que a terapia com células CAR-T é significativamente bem sucedida em pacientes com MM refratário ou recidivante, sobretudo os não responsivos ao tratamento com inibidores de proteassoma, imunomoduladores e transplante de células-tronco ou outras terapias tradicionais. Nesse sentido, sobre o perfil do paciente que se beneficia do uso das células CAR-T, tem-se que: o bom estado geral de saúde é essencial para o sucesso, devido aos efeitos adversos; a alta carga tumoral e de biomarcadores é um bom preditor de possível eficácia da terapia, especialmente o BCMA (Antígeno de Maturação de Células B), consagrado como bom alvo terapêutico; os marcadores SLAMF7 (Signaling Lymphocytic Activation Molecule Family Member 7), CS1 (Cluster Of Differentiation 319) e GPRC5D (G Protein-Coupled Receptor Class C Group 5 Member D) são alvos promissores, com bons resultados pré clínicos, ainda que mais estudos sejam necessários; a presença do marcador CD38 está sendo explorada como possível alvo no tratamento em associação com anticorpos monoclonais; o uso de células CAR T B2ARM blindadas aparenta uma maior multifuncionalidade e função antitumoral em modelos pré-clínicos de MM; e decabtagene vicleucel (ide-cel) e ciltacabtagene autoleucel (cilta-cel) são opções aprovadas com boa resposta, com uma taxa de resposta completa de 33% e 67% respectivamente. Discussão: Conforme os resultados, a terapia baseada nas células CAR-T demonstra potenciais satisfatórios no tratamento de MM, desde que aplicada no paciente adequado. As taxas e a duração da resposta mostraram-se promissoras na doença avançada. O tratamento é complexo e seu desafio está no manejo dos efeitos adversos associados à terapia com células CAR-T, equilibrando a eficácia e a toxicidade. Entre as manifestações de toxicidade mais comuns, destacam-se a síndrome da liberação de citocinas (SRC) e a síndrome de neurotoxicidade associada a células efetoras imunes (ICANS). A SRC varia de reações leves a sintomas graves, como hipotensão, hemorragia e lesão de órgãos-alvo. A ICANS pode causar encefalopatia, convulsões, confusão mental e até morte. O tratamento base para toxicidade é o suporte, mas para eventos graves, utiliza-se tocilizumabe, um anticorpo contra IL-6 e esteroides. Conclusão: Conclui-se que a terapia com células CAR T representa um avanço enorme no tratamento do MM, levando a grande melhora de prognóstico para pacientes refratários. Contudo, seu uso não é isento de riscos, sendo a neurotoxicidade uma das maiores complicações associadas. Ainda que os estudos sejam promissores e o panorama de tratamento tenha sido revolucionado pelo uso das células CAR T, o MM continua sendo uma doença incurável.