Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

PERFIL DE VARIAÇÕES EM NÚMERO DE CÓPIAS DOS GENES DA ALFA GLOBINA EM UM LABORATÓRIO PRIVADO DO BRASIL

  • FK Marques,
  • DS Pereira,
  • MF Oliveira,
  • TR Pimenta,
  • TML Martins,
  • JASM Oliveira,
  • PRX Tomaz,
  • MCT Pintao

Journal volume & issue
Vol. 46
pp. S96 – S97

Abstract

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As hemoglobinopatias estão entre as doenças hereditárias monogênicas mais frequentes mundialmente. Especificamente, a α-talassemia é caracterizada pela redução na síntese de α-globina, comumente causada por deleções que envolvem, parcial ou completamente, o agrupamento gênico HBA, localizado no cromossomo 16 e composto por duas cópias do gene por alelo (HBA1 e HBA2). A gravidade do fenótipo da α-talassemia depende do número de genes afetados. Portadores da deleção de um único gene (-α/αα) são geralmente assintomáticos (portador silencioso), a deleção de dois genes (–/αα ou -α/-α) está associada ao fenótipo de traço talassêmico, com presença de anemia microcítica. A deleção de três genes (–/-α) está associada à doença de hemoglobina H, e a deleção de quatro genes (–/–) está associada a um fenótipo incompatível com a vida, a hidropsia fetal. O diagnóstico das α-talassemias é realizado pela análise de parâmetros clínicos e hematológicos, perfil de hemoglobinas e análise molecular do cluster gênico HBA. Este estudo tem como objetivo caracterizar a frequência e o perfil de variações em número de cópias (CNV) do agrupamento gênico da α-globina, em nosso laboratório, no período de outubro/2023 a julho/2024. A análise de CNVs foi feita por MLPA (Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification) utilizando o kit SALSA MLPA Probemix P140-C1 HBA. Neste período foram analisados 391 pacientes (219 do sexo feminino) com mediana de idade de 23 anos (0 – 93 anos). Foram detectadas CNVs em 239 casos (61,1%), sendo deleção -α3.7 a alteração mais frequente, identificada em 218 casos (91,2%). A deleção -α4.2 foi identificada em cinco casos (2,1%), sendo em dois como deleção única e em três casos com deleção bialélica -α3.7/-α4.2. O predomínio da deleção de 3,7 Kb (-α3.7) em relação a deleção 4,2 Kb (-α4.2) foi observado em estudos anteriores com MLPA e outras técnicas moleculares. Em cinco casos (2,1%) foi identificada a triplicação αααanti3.7. A presença de triplicação do gene da α-globina geralmente é assintomática, mas a concomitância desta alteração e o traço de β-talassemia pode levar a um desequilíbrio mais pronunciado entre as cadeias α e β da globina. Em dois casos (0,8%) foi identificada a deleção de três genes de α-globina, compatível doença de hemoglobina H. As deleções –α20.5 e –FIL ou –THAI foram identificadas em apenas um caso cada. O MLPA não permite a distinção entre os genótipos –FIL e –THAI. Em sete casos (2,9%) foram identificadas deleções envolvendo a região regulatória (HS-40). Em 124 casos (51,9%) foi identificada a deleção de dois genes de α-globina. Deleções de um gene foram identificadas 108 casos (45,2%). A investigação de CNVs pela técnica de MLPA permite a identificação das mutações mais frequentes na α-talassemia. Ainda que a alta prevalência de mutações nesta população esteja relacionada ao perfil de atendimento do laboratório e não represente a população geral, os resultados deste estudo mostram a diversidade de CNVs detectadas no gene de α-globina na amostragem analisada. Além da contribuição para o diagnóstico da α-talassemia, a investigação de CNVs nos genes de α-globina é importante para o aconselhamento genético e prevenção da forma mais grave da doença.