Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
PERFIL DE VARIAÇÕES EM NÚMERO DE CÓPIAS DOS GENES DA ALFA GLOBINA EM UM LABORATÓRIO PRIVADO DO BRASIL
Abstract
As hemoglobinopatias estão entre as doenças hereditárias monogênicas mais frequentes mundialmente. Especificamente, a α-talassemia é caracterizada pela redução na síntese de α-globina, comumente causada por deleções que envolvem, parcial ou completamente, o agrupamento gênico HBA, localizado no cromossomo 16 e composto por duas cópias do gene por alelo (HBA1 e HBA2). A gravidade do fenótipo da α-talassemia depende do número de genes afetados. Portadores da deleção de um único gene (-α/αα) são geralmente assintomáticos (portador silencioso), a deleção de dois genes (–/αα ou -α/-α) está associada ao fenótipo de traço talassêmico, com presença de anemia microcítica. A deleção de três genes (–/-α) está associada à doença de hemoglobina H, e a deleção de quatro genes (–/–) está associada a um fenótipo incompatível com a vida, a hidropsia fetal. O diagnóstico das α-talassemias é realizado pela análise de parâmetros clínicos e hematológicos, perfil de hemoglobinas e análise molecular do cluster gênico HBA. Este estudo tem como objetivo caracterizar a frequência e o perfil de variações em número de cópias (CNV) do agrupamento gênico da α-globina, em nosso laboratório, no período de outubro/2023 a julho/2024. A análise de CNVs foi feita por MLPA (Multiplex Ligation-dependent Probe Amplification) utilizando o kit SALSA MLPA Probemix P140-C1 HBA. Neste período foram analisados 391 pacientes (219 do sexo feminino) com mediana de idade de 23 anos (0 – 93 anos). Foram detectadas CNVs em 239 casos (61,1%), sendo deleção -α3.7 a alteração mais frequente, identificada em 218 casos (91,2%). A deleção -α4.2 foi identificada em cinco casos (2,1%), sendo em dois como deleção única e em três casos com deleção bialélica -α3.7/-α4.2. O predomínio da deleção de 3,7 Kb (-α3.7) em relação a deleção 4,2 Kb (-α4.2) foi observado em estudos anteriores com MLPA e outras técnicas moleculares. Em cinco casos (2,1%) foi identificada a triplicação αααanti3.7. A presença de triplicação do gene da α-globina geralmente é assintomática, mas a concomitância desta alteração e o traço de β-talassemia pode levar a um desequilíbrio mais pronunciado entre as cadeias α e β da globina. Em dois casos (0,8%) foi identificada a deleção de três genes de α-globina, compatível doença de hemoglobina H. As deleções –α20.5 e –FIL ou –THAI foram identificadas em apenas um caso cada. O MLPA não permite a distinção entre os genótipos –FIL e –THAI. Em sete casos (2,9%) foram identificadas deleções envolvendo a região regulatória (HS-40). Em 124 casos (51,9%) foi identificada a deleção de dois genes de α-globina. Deleções de um gene foram identificadas 108 casos (45,2%). A investigação de CNVs pela técnica de MLPA permite a identificação das mutações mais frequentes na α-talassemia. Ainda que a alta prevalência de mutações nesta população esteja relacionada ao perfil de atendimento do laboratório e não represente a população geral, os resultados deste estudo mostram a diversidade de CNVs detectadas no gene de α-globina na amostragem analisada. Além da contribuição para o diagnóstico da α-talassemia, a investigação de CNVs nos genes de α-globina é importante para o aconselhamento genético e prevenção da forma mais grave da doença.