Revista de Saúde Pública (Oct 2024)

Risco e prazer em tempos de sexo farmacologicamente seguro

  • Filipe Mateus Duarte,
  • Sandra Assis Brasil,
  • Mônica Lima,
  • Jardel da Silva Vidal,
  • Laio Magno,
  • Inês Dourado,
  • Luís Augusto Vasconcelos da Silva

DOI
https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2024058005962
Journal volume & issue
Vol. 58, no. suppl 1

Abstract

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RESUMO OBJETIVO: Neste artigo, discutimos como a profilaxia pré-exposição (PrEP) e a carga viral indetectável=intransmissível (CVI=I) têm produzido reconfigurações nos contextos de encontros afetivo-sexuais de jovens gays/ homens que fazem sexo com homens (HSH) vivendo com HIV (JVHIV). MÉTODOS: Conduzimos entrevistas em profundidade com nove JVHIV, de 18 a 29 anos, oriundos de duas pesquisas realizadas em Salvador/Bahia, em 2019 e 2021. Focalizamos narrativas sobre acontecimentos inéditos na prevenção e no tratamento do HIV/aids, que têm permitido experiências de maior intimidade e segurança, mas também desafios e tensionamentos às relações afetivo-sexuais. RESULTADOS: Momentos distintos da experiência de viver com HIV revelam diferentes narrativas dos JVHIV com relação às novas biotecnologias de PrEP e CVI. Preocupações em torno de uma possível transmissão do HIV ou da obrigação de revelar a sorologia ficam mais destacadas entre jovens com o diagnóstico mais recente, enquanto aqueles com maior tempo de sorologia se colocam de forma mais confortável e confiante frente às novas tecnologias e seus efeitos significativos nos encontros sexuais, ainda que permaneçam controvérsias a respeito das consequências morais e comportamentais do uso delas. Alguns JVHIV reatualizam preocupações e trazem relatos sobre a continuidade do estigma em relação às pessoas vivendo com HIV. Outros JVHIV enfatizam os benefícios dos avanços biomédicos, com abertura para novas possibilidades interativas, inclusive sem uso da camisinha, sublinhando a existência de outras práticas, saberes, dinâmicas e formas de negociação do risco/cuidado, com tensionamentos no campo da própria sexualidade. CONCLUSÕES: Reiteramos a necessidade de retomada de políticas públicas no campo do HIV/aids para além das estratégias biomédicas, dando destaque às vulnerabilidades, à disseminação de informações sobre as novas tecnologias de prevenção e tratamento do HIV, ao respeito à autonomia das pessoas em suas escolhas preventivas e ao desenvolvimento de estratégias de enfrentamento aos estigmas associados ao HIV/aids.

Keywords