Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
A IMPORTÂNCIA DA ROTINA MÃE/RECÉM NATO NA DETECÇÃO PRECOCE DA DOENÇA HEMOLÍTICA DO RECÉM NATO
Abstract
Introdução: A rotina Mãe/recém nato (RN) é uma prática hemoterápica que compreende a realização da tipagem sanguínea, fenotipagem Rh/Kell na mãe/RN e, pesquisa de anticorpos irregulares na mãe e teste direto de antiglobulina humana (TAD) no RN. A coleta do sangue ocorre no parto. Seu objetivo é identificar anticorpos maternos que se ligam as hemácias fetais podendo causar hemólise e, portanto aumento da bilirrubina e até anemia. O quadro clínico varia de acordo com severidade da hemólise desde de assintomático até óbito. As modalidades terapêuticas compreendem fototerapia, transfusão intrauterina, exsanguíneo transfusão e uso de imunoglobulina. A formação de anticorpos maternos pode ser natural ou após aloimunização. Historicamente o anticorpo mais envolvido era o anti-D, porem com o uso profilático da imunoglobulina anti-D essa incidência tem decrescido. Desse modo, atualmente DHRN pelo sistema ABO é a mais comum ocorrendo em torno de 12-15% das gestações. Esta é caracterizada por sua apresentação leve, possivelmente devido a maior parte dos anticorpos do sistema ABO serem IgM que não ultrapassam a barreira placentária. Os indivíduos do grupo “O”, são os que mais apresentam anticorpos ABO IgG, o que explica porque essa patologia envolve mais frequente mães “O”. Os RN do tipo “A” são os mais afetados possivelmente pela maior densidade antigênica. Embora na DHRN por ABO a anemia e hidropsia sejam raras, a hiperbilirrubinemia e consequente icterícia são comuns. Objetivo: Descrever os anticorpos identificados nos recém nascidos inseridos na rotina Mãe/RN através do eluato. Relatar o tratamento proposto, desfecho e tempo de internação. Materiais e métodos: Estudo transversal, descritivo e retrospectivo dos dados de RN obtidos da rotina mãe/RN e, também do prontuário eletrônico no período de Janeiro a Dezembro de 2023 em uma maternidade particular na cidade do RJ. Resultados: No período informado foram realizados 5878 exames de RN. Destes 124 (2,1%) apresentaram TAD reativo e, em todos o eluato foi feito mostrando: anti-A 66,9%; anti-B 19,4%; anti-D com ou sem anti-A 4,8%; eluato negativo 4%; anti-Jka 1,6%; anti-c 0,8%; anti-E 0,8% e múltiplos Anti-A, Anti-c, Anti-M, Anti-Fya 1,6%. Houveram 16 RN com eluato aberto devido incompatibilidade ABO com TAD negativo, destes 8 com anti-A e 1 anti-B. Foram avaliados 128 eluatos positivos quanto a descrição de icterícia, bilirrubina total (BT), tratamento, desfecho e tempo de internação se tratamento. A BT alterada foi encontrada em 111, variando 1,1 - 21 mg/dl com média de 9,7mg/dl, porem só 62 (55,8%) tinham icterícia descrita. Um total de 40 pacientes (36%) necessitaram de intervenção sendo que o único tratamento necessário foi a fototerapia cuja frequência variou de 1-4/dias e, nesses a internação variou entre 2-25, com média de 8 dias. Ao excluir outras causas de internação além da icterícia como sepse, síndromes genéticas e má formações congênitas média de internação reduziu para 7 dias. O óbito não foi desfecho. Dos com fototerapia, 28 tinham anti-A, 10 anti-B, 1 anti-D e anti-A e 1 múltiplos. Em todos a mãe era O. Discussão: Na população estudada como na literatura, DHRN tem como principal causa incompatibilidade ABO com mãe “O”e RN “A”e, se apresenta branda. A frequência menor, pode ser relacionada a não contabilização das incompatibilidades sem TAD reativo e, sem amostra materna. Mais de 40% das crianças com bilirrubina alterada não apresentavam icterícia percebida, mostrando a importância dos testes para que crianças com maior risco possam ser adequadamente investigadas e acompanhadas. Conclusão: Os dados apresentados fortalecem a importância da rotina Mãe/RN como forma de diagnosticar precocemente a DHRN que mesmo nos casos leves, pode necessitar de tratamento para um desfecho adequado.