Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
PREVALÊNCIA DE ALOANTICORPOS ANTIERITROCITÁRIOS CLINICAMENTE SIGNIFICANTES EM DOADORES DE SANGUE DO BANCO DE SANGUE DE SÃO PAULO
Abstract
Objetivos: Os aloanticorpos antieritrocitários irregulares (AAI) clinicamente significantes estão associados com a Doença Hemolítica do Feto e do Recém- Nascido (DHFRN) e/ou a Reação Hemolítica Transfusional (RHT). Nos serviços de hemoterapia, a pesquisa de AAI (PAI) em doadores de sangue é obrigatória a fim de evitar RHT no receptor. O estudo foi realizado com o objetivo de avaliar a prevalência de AAI em doadores de sangue do Banco de Sangue de São Paulo e analisar a importância da investigação dos aloanticorpos nestes doadores. Métodos: Estudo transversal, descritivo e retrospectivo, de dados demográficos e de perfil dos AAI dos doadores de sangue provenientes do Banco de Sangue de São Paulo no período de janeiro de 2023 a julho de 2024, pela metodologia de microplaca. Resultados: Foram analisados dados de PAI de 62.896 doadores de sangue, dos quais 0,11% apresentaram resultado positivo e clinicamente significantes. Dentre eles, a maioria era do grupo O positivo (30%), O negativo (24%), A positivo (19%), A negativo (12%), B positivo (7,2%), B negativo (3,6%), AB negativo (3%) e AB positivo (1,2%). Foram 77,9% do sexo feminino e 22,1% do sexo masculino. As especificidades dos AAI foram contra os antígenos dos sistemas Rh (57,8%), MNS (23%), Kell (13,2%), Diego (2,4%), Duffy (1,2%), Lewis (1,2%) e Lutheran (1,2%). Em mulheres, os anticorpos mais frequentes foram anti-D (33,3%), anti-E (17,5%), anti-M (17,5%), anti-C (12,6%), anti-K (11,1%), anti-Dia (1,6%), anti-S (1,6%), anti-Lea (1,6%), anti-Lu (1,6%) e anti-Fya (1,6%). Em homens, os anticorpos anti-M (35%), anti-K (20%), anti-E (15%), anti-D (15%), anti-C (10%) e anti-Dia (5%) foram predominantes. Discussão: A PAI foi positiva em 0,11% dos doadores de sangue, inferior a estudos realizados no Hemorio (0,92%) e nos Estados Unidos (0,77%), possivelmente devido a diferenças populacionais e metodológicas. Dentre os doadores de sangue, anti-D foi o mais prevalente, nas mulheres, com resultados similares a estudos em outros países, porém com prevalência alta também do anti-M, relatado na literatura com menor frequência. O anti-Dia foi encontrado em 2,4% dos doadores, mostrando a importância da detecção deste anticorpo na triagem de doadores e pacientes para prevenção de RHT, tendo em vista que a prevalência do antígeno Diana população brasileira pode variar de 2 a 54%, diferentemente da população européia e americana onde a incidência deste antígeno é muito rara. Nas doadoras de sangue, o principal anticorpo encontrado foi o anti-D, possivelmente relacionado com aloimunização pós gestacional e devido falha na imunoprofilaxia Rh. Nos doadores do sexo masculino, o mais prevalente foi o anti-M, também em maior prevalência que na literatura internacional, porém seguido do anti-K, anticorpo relatado frequentemente em outros estudos. Conclusão: Os hemocomponentes plasmáticos de doadores de sangue com PAI positiva são descartados evitando-se a RHT. Entretanto, os doadores devem ser orientados dos potenciais riscos dos AAI causarem RHT imediatas ou tardias caso necessitem de transfusão futura e, nas doadoras em idade gestacional, se engravidarem, desenvolverem a DHFRN.