Revista Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (Oct 2019)

Um caso de Diabetes de difícil controlo

  • Clara Jasmins,
  • Ana Rita Mendes,
  • Gonçalo Melo

DOI
https://doi.org/10.32385/rpmgf.v35i5.12083
Journal volume & issue
Vol. 35, no. 5

Abstract

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Introdução: Apresentamos um caso clínico de uma entidade rara, embora muitas vezes subdiagnosticada. Salientamos a iinfluência dos antecedentes pessoais, familiares e história social no sucesso terapêutico. Descrição do caso: Doente de 46 anos, sexo masculino, desempregado, com antecedentes pessoais de défice cognitivo, abuso de substâncias tóxicas e perturbações depressivas e de ansiedade. O pai foi diagnosticado com Diabetes Mellitus aos 40 anos e mantém uma relação conflituosa com a irmã. Assintomático até outubro de 2012, quando recorre à consulta por cansaço, xerostomia, polifagia, polidipsia, poliúria e perda ponderal acentuada, com novo consumo abusivo de álcool, tabaco e comportamentos desadequados. Coloca-se a hipótese diagnóstica de Diabetes Mellitus inaugural, apresentando HbA1c 12% e glicémia em jejum 254mg/dL e inicia Metformina duas vezes por dia. Porém, mantém mau controlo da doença, com necessidade de escalada terapêutica sucessiva, até introdução de insulina, dois meses após o diagnóstico. É referenciado a consulta de diabetologia e abandona por diversas vezes as consultas de seguimento, até ao diagnóstico de Diabetes autoimune latente do adulto (LADA) em Fevereiro de 2015, quando apresenta anticorpos anti-GAD65 positivos. Em Janeiro de 2016 é internado por cetoacidose diabética. Desde então mantém níveis inadequados de HbA1c, mas sem novos episódios de hipoglicémia. Comentário: O caso clinico que descrevemos mostra a influência das condições socio-económicas, antecedentes pessoais e as relações familiares no tratamento de doenças crónicas como a LADA. Os hábitos alimentares desadequados, com refeições escassas e em períodos irregulares, além de má adesão aos cuidados de saúde e à terapêutica, condicionaram um controlo ineficaz da doença. Pretendemos com este caso salientar a importância de responsabilizar o doente pelo seu próprio tratamento, e promover a participação activa dos familiares mais próximos. Neste caso em particular, a relação conflituosa do doente com a irmã, constituiu mais um elemento perturbador para o sucesso terapêutico. Palavras-chave: Diabetes, autoimune, hábitos alimentares