Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
REATIVAÇÃO DE CITOMEGALOVÍRUS PÓS TRANSPLANTE ALOGÊNICO DE CÉLULAS HEMATOPOIÉTICAS EM PEDIATRIA: COORTE COMPARATIVA COM ADULTOS QUANTO INCIDÊNCIA, CINÉTICA VIRAL E FATORES DE RISCO
Abstract
Introdução: Citomegalovírus (CMV) é um evento frequente no transplante alogênico de células hematopoéticas (Alo-TCH), cuja primo infecção ocorre, em geral, no período da infância. A imunossupressão aumenta o risco de reativação e está associada a alta morbidade e mortalidade nessa população. Esse estudo tem por objetivo avaliar se a reativação de CMV na população pediátrica apresenta comportamento semelhante a reativação na população adulta submetida a Alo-TCH. Métodos: Estudo de coorte prospectivo em indivíduos submetidos a TCH em uma única instituição entre 2013 e 2024. Pacientes foram testados por PCR quantitativo de CMV (Taqman Sistem – artus CMV Qiagen) no plasma para detecção de DNAemia (limite de detecção 31 UI/mL). A testagem iniciou na primeira semana pós transplante. Pacientes menores de 18 anos foram classificados como pediátricos. Os dados foram analisados usando SPSS 21 e a significância estatística definida foi p < 0.05. Foram usados testes Qui-Quadrado, Mann Whitney e Pearson, considerando as características das variáveis. Kaplan-Meier foi usado para avaliação de incidência. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Institucional. Resultados: Foram realizados 287 TCH alogênico, dos quais 40 (14%) pacientes pediátricos e 247 adultos. As medianas de idade dos pediátricos e adultos foram de 9 (1‒16) e 46 (18‒75) anos, respectivamente. A mediana do tempo de follow-up da coorte foi de 335 dias. As principais indicações para o Alo-TCH nos pediátricos foram LLA (42% × 17%; p < 0,01), anemia aplástica (20% × 4%; p < 0,01) e LMA (17,5 × 41%; p < 0,01) em comparação com os adultos. Em relação ao TCH, o tipo de doador e a fonte entre pediátricos e adultos foram respectivamente: doadores não aparentados (NAP) 45% x 23% e haploidênticos (Haplo) 40% × 34% (p < 0,01), com predomínio da fonte de medula óssea 70% × 39% (p < 0,01). Até o D+180, 19 pediátricos e 94, adultos tiveram reativação por CMV. A incidência de reativação por CMV até o D+100 e até o D+180 ocorreu em 49% x 35% e 52% x 42% (p = 0,12) respectivamente entre pediátricos e adultos. A mediana de dias pós TCH para reativação foi de D+23 × D+35 dias (p = NS), e 58% × 40% das reativações aconteceram até o D+30 (p = NS), entre pediátricos e adultos. As medianas da carga viral inicial e a de pico foram 73 × 162 UI/mL (p < 0,01) e 487 × 4180 UI/mL (p < 0,01), respectivamente. O tempo entre a primeira carga viral positiva e o clareamento foi de 28 × 38 dias (p = NS). Comparando as características de casos de reativação em pediatria versus adultos, houve diferença quanto a doença de base LLA (42% x 18), AA (26% x 6%) e LMA (26% × 40%) (p < 0,05); tipo de doador (NAP e Haplo foram 47% × 28% e 37% × 29%; p = 0,08) e fonte de células utilizada (medula óssea: 77% × 66%; p = 0,05). Conclusão: Comparando as duas populações, observou-se que o TCH pediátrico mais frequentemente foi realizado com doadores alternativos comparando com adultos. Houve uma incidência de reativação de CMV ao redor de 50% até o D+180, porém a diferença na incidência de CMV entre a população pediátrica e a adulta não foi estatisticamente significativa. 50% das reativações em pediatria ocorreram até o D+30. No entanto, a cinética viral indicou que as cargas virais iniciais e de pico foram significativamente menores nos pediátricos, porém sem diferença significativa no clareamento viral. A população pediátrica apresentou alta reativação de CMV, com reativações precoces em uma coorte com alta frequência de doadores alternativos.