Kalagatos (Aug 2021)

Narrativa, memória e políticas de esquecimento:

  • Elivanda Oliveira Silva,
  • Fábio Abreu dos Passos

DOI
https://doi.org/10.23845/kalagatos.v16i2.6589
Journal volume & issue
Vol. 16, no. 2

Abstract

Read online

Os seres humanos não são capazes de guardar na memória todos os acontecimentos experienciados. Diante disso, faz-se necessário negociar o que iremos reter na memória e o que iremos deixar de fora, cujo destino é o limbo. Em sociedades modernas, massificadas e apáticas em relação aos assuntos públicos, retira-se das mãos dos atores o direito de escolha sobre o que será rememorado ou esquecido, passando a ser gestado por grupos com interesses particulares, que impõem o silêncio sobre alguns eventos. Assim, emudecem as narrativas memoriais sobre crimes hediondos, tais como torturas e assassinatos, substituindo-as pela força coercitiva da anistia, o pseudônimo da amnésia coletiva. Nesse papel, a anistia desaparece com o que deveria ser punido, levando a uma indistinção entre perdão e esquecimento. Para que esse mal não paire sobre sociedades do Cone Sul que foram assoladas por regimes ditatoriais em meados do século XX, faz-se necessário recordá-los, através de narrativas, para que eles não voltem a ocorrer e para que os laços sociais, perdidos durante anos de regimes autoritários, sejam restaurados. O objetivo do presente artigo é analisar o embate entre as políticas de esquecimento e as narrativas memoriais a partir do entrelaçamento das reflexões de Paul Ricœur, Hannah Arendt e Beatriz Sarlo.

Keywords