Locus (Sep 2020)
Preservar patrimónios e partilhar memórias em cidades-porto latino-americanas
Abstract
Os portos marítimos foram, durante séculos, a mais contínua plataforma de interface e de intercâmbio entre a Europa, a África e a América. As cidades portuárias emergem como estruturas e construções sociais com características próprias. O seu estudo permite conhecer e debater questões relacionadas com a complexidade urbana e social, pois reúnem, por norma, marcas de diversidade, humana e cultural, e por isso apresentam-se como locais privilegiados para o desenvolvimento de estudos sobre alteridade e sobre formas de permeabilidade, inclusive cultural. As cidades-porto, na Europa, e na América Latina, deparam-se também com desafios, e com riscos, decorrentes dos elevados níveis de desenvolvimento de uma indústria turística que explora patrimónios, materiais e imateriais, edificados, simbólicos ou naturais, frequentemente sem benefícios para os construtores, herdeiros e fautores desses patrimónios — as comunidades locais. Esta matéria agudiza-se quando nos encontramos perante memórias e patrimónios construídos historicamente através de dinâmicas coloniais. Muitas questões se levantam em torno da gestão dessas memórias e dessas heranças. As comunidades exigem hoje o reconhecimento de identidades e de valores autóctones e clamam por distintos conceitos e práticas de preservação das suas próprias memórias e patrimónios. São estes os principais desafios com que se debate o projeto sustentado pela rede CoopMar, de cujos objetivos, estratégias e realizações trata este artigo.