Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
RESERVAS DE SANGUE EM CIRURGIAS ELETIVAS: FUNDAMENTOS PARA ELABORAÇÃO DE PROTOCOLO EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DO RIO DE JANEIRO
Abstract
Introdução/objetivos: Num hospital de alta complexidade como o Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), com demanda crescente por Concentrados de Hemácias (CH) para cirurgias eletivas e considerando o custo operacional para sua viabilização, urge a necessidade da elaboração de protocolo de reserva de sangue baseado em evidência. Protocolos como MSBOS (Maximum Surgical Blood Order Schedule) e PBM (Patient Blood Management) ainda não compõem a rotina transfusional do HUPE, assim, este trabalho visa levantar evidências baseado na experiência prévia da própria instituição para criação de um protocolo de reserva cirúrgica eletiva de CH para os serviços cirúrgicos mais representativos do HUPE, bem como otimizar a rotina transfusional. Para tal os dados referentes à Urologia serão utilizados como piloto neste trabalho. Material e métodos: Trata-se de um estudo transversal e retrospectivo baseado nos dados dos mapas cirúrgicos, sistema HEMOTE Plus, prontuários eletrônicos via sistema MV-Soul do HUPE/UERJ, de janeiro a junho de 2022. Através de uma planilha Excel foram consideradas as seguintes variáveis para análise exploratória através de medidas de frequência: porte da cirurgia, unidades de CH solicitadas e usadas, modalidade da cirurgia, hematócrito e hemoglobina pré operatórios, grupo sanguíneo, Pesquisa de Anticorpos Irregulares (PAI) e provas cruzadas. Calculou-se o PC/T (índice de Prova Cruzada/Transfusão), sendo 1 a razão ideal a ser obtida, significando o uso total dos componentes solicitados. Foram utilizados os valores da Portaria número 1469, de 10 julho de 2006, corrigidos pela inflação IPCA-A até fevereiro de 2023 para o cálculo da previsão de custos com reservas de CH neste cenário. Resultados: Das 806 cirurgias do período, 218 (27%) solicitaram CH, somando 230 bolsas reservadas e 170 provas cruzadas realizadas. Apenas 3 pacientes tinham PAI positivo. Foram usadas 21 (9,1%) bolsas de CH, em cirurgias de médio e grande porte. A média de bolsas reservadas foi de 1 unidade/procedimento, já a média de uso foi de 0,09 unidade/procedimento. A média de hematócrito pré cirúrgico foi de 39,77% e a de hemoglobina, 12,95 g/dL. Das 48 cirurgias via robótica, 10 reservaram 1 bolsa de CH cada, resultando em 9 provas cruzadas feitas e não transfundidas. A média do índice PC/T, feito para 20 das 208 cirurgias via tradicional, foi de 1,1. O valor para reserva de 1 CH é de cerca de R$ 1.224,00, implicando num custo aproximado de R$ 255.816,00 com as provas cruzadas feitas e não transfundidas. Discussão: O serviço cirúrgico urológico do HUPE se beneficiaria com a implantação de protocolo de reservas de sangue para cirurgias, otimizando recursos financeiros e de pessoal. A implementação do MSBOS e do PBM no serviço parece ser imprescindível diante de recurso escasso e finito. Pelos resultados obtidos, cirurgias via robótica parecem reduzir a necessidade de transfusão. É notório o impacto financeiro no sistema de saúde das reservas de sangue não utilizadas. Conclusão: Espera-se, com os resultados do presente estudo, expandir a análise para outras clínicas cirúrgicas, envolvendo o comitê transfusional na discussão, para elaboração de protocolo de reserva sanguínea para cirurgias eletivas.