Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)

ANEMIA APLÁSTICA NO CONTEXTO GESTACIONAL - RELATO DE CASO

  • WCO Junior,
  • HA Brandileone,
  • ID Brejão,
  • LC Sampaio,
  • LFF Marins,
  • LP Andrade,
  • LAPC Lage,
  • J Pereira,
  • GM Patavino,
  • RO Costa

Journal volume & issue
Vol. 46
p. S1072

Abstract

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Objetivo: Relatar caso raro de anemia aplástica no contexto gestacional, abordagem terapêutica, complicações e desfechos. Material e métodos: Paciente feminino, 19 anos, gestante com idade gestacional de 16 semanas, foi encaminhada pelo obstetra para internação na hematologia em 16 de fevereiro de 2024 devido a queixa de fraqueza, astenia, cefaleia e hemograma com bicitopenia (anemia e plaquetopenia). Ao EF estava descorada, sem petéquias, e com propedêutica obstétrica normal para idade gestacional. Interrogada, negava sangramentos ativos, mas referia episódios isolados de gengivorragia. De AP, a mãe referia 01 episódio de hemotransfusão sem precisar diagnóstico, e uso de ácido fólico e sulfato ferroso. Laboratorialmente, apresentava Hb de 7.4 g/dl, VCM 94.6, leucócitos 6030, neutrófilos 4221 e plaquetas 34.000/mm3. Apresentava reticulocitopenia e provas de hemólise negativas. A dosagem de Ferritina foi de 1.050 ng/ml, saturação 35%, vitamina B12 de 219 pg/ml (221-911 pg/ml), optado então por reposição IM. Todas as sorologias foram negativas. Após reposição, houve incremento de 01 g/dl na Hb, e de plaqueta para 69.000 ainda durante internação, com HD de anemia carencial e seguimento ambulatorial. Um mês após reposição de B12 em doses adequadas, a paciente retorna com nova queda da Hb e plaquetometria, com necessidade transfusional de dois concentrados de hemácias. Revisitado diagnóstico com avaliação medular com mielograma normocelular, cariótipo 46,XX[20], imunofenotipagem sem fenótipo anômalo, BMO com de 30% de células hematopoiéticas, imunohistoquímica com celularidade de 25 a 30%, ausência de fibrose, e clone HPN negativa. Feito diagnóstico de anemia aplástica não grave, e indicado tratamento com ciclosporina monoterapia. Com melhora da citopenia e independência transfusional, a paciente recebeu alta com Hb de 7,9 g/dl e plaquetas de 40.000/mm3 para seguimento ambulatorial conjunto com hematologia e gestação de alto risco. De intercorrências do tratamento, a paciente apresentou hipertrofia gengival e, em julho de 2024, os últimos exames demonstraram melhora significativa dos parâmetros laboratoriais: HB 9,3 g/dl e plaquetas 165.000/mm3 e a paciente segue em acompanhamento a cada 15 dias para controle, com 37 semanas de gestação, com proposta de indução com 39 semanas pela equipe de obstetrícia. Discussão: A anemia aplástica (AA) é um distúrbio raro caracterizado por pancitopenia e hipocelularidade em MO que, associada à gestação, pode levar a complicações materno-fetais graves como hemorragia, sepse, pré-eclâmpsia, crescimento fetal inadequado e parto prematuro. Chen e cols demonstraram em coorte retrospectiva (n = 18) que nenhuma gestante apresentava neutropenia ≤ 500, com 83.3% da amostra não neutropênica. A ausência de gatilho infeccioso, displasia citomorfológica, cariótipo normal, toxicidade medicamentosa, e a resposta à imunossupressão apontam para aplasia que, no contexto da gestação, tem fisiopatologia desconhecida. É incerto se alterações hormonais ou imunes da gestação tenham relação etiopatogênica. Outro desafio envolve qual terapêutica é ideal, já que tratamentos convencionais, como TMO, não estão indicados. Neste contexto, a ciclosporina é opção relativamente segura para o concepto. Conclusão: Citopenias na gestante, embora frequentes, devem ser adequadamente avaliadas pela equipe obstétrica com suporte do hematologista em razão da complexidade tanto diagnóstica, quanto terapêutica.