Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
GRAVIDEZ GEMELAR DURANTE TRATAMENTO COM ASCIMINIBE - RELATO DE CASO
Abstract
Objetivo: Relatar caso de paciente com LMC com gravidez durante tratamento com asciminibe. Relato de caso: Paciente do sexo feminino, 33 anos, com diagnóstico de leucemia mieloide crônica desde 2017, tratada em primeira linha com imatinibe 400 mg, segunda linha com dasatinibe 100 mg e em terceira linha com asciminibe 80 mg/dia, desde maio de 2023, acesso via programa de uso compassivo. A troca dos inibidores de tirosina quinase (ITQ) foi motivada por perda de resposta molecular e citogenética nos dois inibidores de tirosina quinase anteriores, sem mutação do BCR::ABL1. Apesar de orientada contracepção hormonal e método de barreira, paciente fazia uso apenas de contraceptivo oral combinado, e em agosto de 2023, foi diagnosticado gestação gemelar no primeiro trimestre, sendo orientada a suspender asciminibe imediatamente. Foi prescrito Interferon peguilado 180 mcg SC a cada 2 semanas. Após 15 dias da modificação do tratamento, houve perda de resposta molecular, porém sem perda de resposta hematológica. Durante a gestação, a paciente foi acompanhada pela equipe de ginecologia e obstetrícia. Na 32ª semana de gestação, a paciente foi internada por quadro de pré-eclâmpsia, mantendo-se internada até o final da 34ª semana de gestação (fevereiro de 2024), quando foi submetida a uma cesariana, com nascimento de RNPT sexo feminino, vivo, Apgar 8/10, e RNPT sexo masculino, vivo, Apgar 8/10. Apresentou hemorragia pós parto revertida com massagem uterina e ocitocina 20UI, transamin, misoprostol via retal. Evoluiu com pico pressórico e cefaleia pós parto, com indicação de sulfatação de 24 a 25/02/2024. Após 5 dias da alta, retornou para unidade de saúde com hipertensão, sendo internada para controle, com alta após 4 dias, sem mais intercorrências. Recebeu no total 9 doses de Interferon peguilado. Após alta da maternidade, foi suspensa a amamentação e reiniciado asciminibe 80 mg ao dia, com recuperação resposta molecular maior em 2 meses de reinício do tratamento. Discussão: Com a revolução do tratamento da LMC após o surgimento dos ITQ, a população tem alcançado sobrevida semelhante à população geral. O tratamento da LMC em gestantes é uma condição rara e muito desafiadora e por ser conhecido o risco teratogênico associado aos ITQ, principalmente no primeiro trimestre, indica-se suspensão de seu uso quando ocorre gestação, devendo manter-se o monitoramento para avaliar persistência ou perda da resposta, para que possa ser feito o tratamento adequado (seja com interferon alfa ou leucocitoaférese). O asciminibe é um ITQ de 3ª geração com um mecanismo de ação diferente dos demais, atuando no sítio do miristoil. São raros os relatos de gravidez após exposição ao asciminibe. Conclusão: Relatamos um caso de gestação gemelar bem-sucedido após exposição ao asciminibe, com rápida recuperação da resposta molecular após a reintrodução da medicação pós parto. Há necessidade de individualizar a terapêutica da LMC durante a gestação, baseando-se nos níveis dos transcritos BCR::ABL1, resposta hematológica, status da LMC e curso da gravidez. Deve-se manter monitorização molecular regular através do PCR quantitativo. Gestantes com resposta molecular estável e duradoura podem interromper de modo mais seguro o tratamento. No presente caso, a gravidez precoce em início de tratamento com asciminibe, em uma paciente resistente a dois ITQ prévios, sem atingir estabilidade da resposta molecular poderia ter colocado em risco a evolução da doença.