CSOnline (Apr 2021)

Internacionalismo como tema e como projeto de vida - entrevista com Rosana Pinheiro-Machado

  • Leonardo Francisco de Azevedo,
  • Gustavo Fernandes Paravizo Mira,
  • Danira Morais da Silva

DOI
https://doi.org/10.34019/1981-2140.2020.33245
Journal volume & issue
no. 32

Abstract

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Acreditar nos espaços de diálogo é uma obrigação em tempos nos quais o negacionismo e o desapreço por informação verificada se fazem presentes na cena pública. Vivenciamos uma inédita pandemia acompanhada do aumento das desigualdades e da pobreza, bem como do crescimento das migrações por guerra e desastres, além da intensificação de conflitos étnico-identitários e de uma significativa descrença nas instituições, com impacto global. Neste cenário onde as ideias e os conflitos parecem ser difíceis de decifrar, a reafirmação do compromisso com a ciência e diversificação dos espaços de debate, especialmente no Brasil, transforma-se em um ato de resistência ante ao obscurantismo rasteiro que tem atrapalhado o entendimento sobre questões centrais para convívio. Tendo em vista a importância da ciência como instância de análise, debate e crítica da realidade, o corpo editorial da CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais propõe, a partir deste número, uma nova seção dedicada à escuta de pesquisadoras e pesquisadores de renome na cena pública e acadêmica. Nosso objetivo, a partir de entrevistas cuidadosamente elaboradas por nossa equipe, é alargar as fronteiras de discussão de temas de interesse e, ao mesmo tempo, de forma sensível, conhecer as trajetórias e as percepções de figuras relevantes nas Ciências Sociais. Entendemos que a Antropologia, a Ciência Política e a Sociologia têm muito a contribuir na construção de debates acessíveis e qualificados em direção a uma sociedade mais plural, justa e participativa. A primeira entrevistada escolhida, fruto de um intenso trabalho de curadoria, é a professora Rosana Pinheiro-Machado. Doutora em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rosana trabalhou em grandes universidades no Brasil e no exterior, como a Universidade de Oxford, e atualmente é professora de Desenvolvimento Internacional na University of Bath, no Reino Unido. Em uma de suas pesquisas mais conhecidas, estudou o circuito de circulação de produtos chineses até sua chegada ao Brasil, via Paraguai. Sua tese ganhou os principais prêmios no Brasil, como o prêmio de melhor tese da Associação Brasileira de Pós-graduação em Ciências Sociais (ANPOCS) e da CAPES. Além disso, se tornou uma das principais vozes acadêmicas, no debate contemporâneo, contra as intransigências do governo Bolsonaro e avanço do conservadorismo e de movimentos antidemocráticos, no Brasil e no mundo. Ela nos concedeu essa entrevista em novembro de 2020 em um contexto bastante rico, porém turbulento e repleto de acontecimentos importante. No Brasil, logo após o fim do primeiro turno das eleições municipais brasileiras, ainda havia expectativa pela realização das eleições, em segundo turno, de prefeitos e prefeitas nas cidades mais populosas. Entre os nossos vizinhos, fatos importantes também estavam em curso: a Bolívia havia enfrentado a maior tensão desde a deposição de Evo Morales com retorno do MAS à presidência do país; no Chile, o processo de reedição da constituinte havia sido aprovado em plebiscito; nos Estados Unidos, a apuração dos votos na corrida pela Casa Branca, entre Trump e Biden, gerava medo e preocupação. Por meio de chamada de vídeo, Rosana respondeu a uma série de perguntas a respeito de suas pesquisas, sobre o papel da intelectualidade no debate público, sobre as universidades no Brasil e na Europa e também em relação a uma gama de temas como saúde mental na academia, interdisciplinaridade e política contemporânea.

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