Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

MORTALIDADE POR LEUCEMIAS E LINFOMAS E INDICADORES SOCIOECONÔMICOS NO BRASIL

  • DDS Rezende,
  • HL Sarmento,
  • VR Michels,
  • MS Maia,
  • RF Menezes,
  • NFC Silva,
  • KOR Borges

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S930 – S931

Abstract

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Objetivos: Investigar e caracterizar a correlação entre mortalidade por leucemias e linfomas e indicadores socioeconômicos no Brasil durante o período de 2015 a 2020. Materiais e métodos: Trata-se de um estudo ecológico, realizado a partir de dados extraídos do Atlas Online de Mortalidade, do Instituto Nacional de Câncer, e do Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, abrangendo o período de 2016 a 2021. Os dados coletados compreenderam o índice de desenvolvimento humano (IDH), seus subíndices (educação, longevidade e renda) e a taxa de mortalidade (ajustada à população mundial) por linfomas e leucemias, designada conforme a Classificação Internacional de Doenças – C81 a C85; C91 a C95 –, distribuídos segundo unidade federativa e ano. Os dados foram tabulados e analisados no programa Microsoft Excel® 2016 por regressão linear simples com intervalo de confiança de 95%, obtendo-se ao final o coeficiente de Pearson (r) e o valor de p para cada correlação entre mortalidade e indicadores socioeconômicos. Resultados: A taxa de mortalidade média por leucemias e linfomas teve seu valor máximo registrado na região Sul (5,62; IDH = 0,798), e o mínimo, na região Norte (4,23; IDH = 0,725). As regiões Centro-oeste (4,81; IDH = 0,782), Sudeste (4,57; IDH = 0,797) e Nordeste (4,26; IDH = 0,711) ocupam posições intermediárias. A mortalidade por ambas as neoplasias se correlacionou positivamente, em caráter de significância estatística, com o IDH (r = 0,68; p < 0,05) e seus subíndices, IDH-educação (r = 0,53; p < 0,05), IDH-longevidade (r = 0,62; p < 0,05) e IDH-renda (r = 0,70; p < 0,05). Discussão: Os achados deste estudo sugerem que as taxas de mortalidade por leucemias e linfomas variam proporcionalmente às condições de vida no Brasil. Em outras palavras, quanto maior o grau de desenvolvimento socioeconômico de uma população, expresso em três dimensões fundamentais – saúde, renda e educação –, maior tende a ser o impacto de tais neoplasias na mortalidade. A justificativa para essa constatação diz respeito, sobretudo, às desigualdades relativas aos três pilares do desenvolvimento humano. Melhores condições de acesso às oportunidades de manter-se saudável, ao conhecimento e a um padrão de vida adequado implicam aumento da longevidade e, inerentemente, da população geriátrica – um forte preditor de uma maior mortalidade por doenças associadas ao envelhecimento, como neoplasias. Ademais, em populações com elevado IDH, o acesso ao diagnóstico tende a ser mais fácil e rápido e o registro de informações, mais rigoroso, o que contribui para a menor subnotificação de óbitos por leucemias e linfomas. Conclusão: Unidades federativas com melhores indicadores socioeconômicos tendem a demonstrar maior taxa de mortalidade por casos registrados de linfomas e leucemias em relação às regiões com indicadores socioeconômicos inferiores. Tal quadro evidencia pontos-chave no que tange às grandes diferenças de realidade ainda existentes entre as regiões do Brasil. Quando se analisam doenças que possuem taxas de mortalidade diretamente relacionadas à longevidade e à qualidade de vida da população, as disparidades atreladas ao nível de desenvolvimento humano permitem compreender a influência da desigualdade social e econômica enraizada no país como fator que molda e altera fortemente a apresentação da saúde populacional.