Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)

LEUCOENCEFALOPATIA MULTIFOCAL PROGRESSIVA ASSOCIADA AO DARATUMUMABE EM PACIENTE COM MIELOMA MÚLTIPLO

  • J Bigonha,
  • JDP Paes,
  • MMR Haikel,
  • G Augusto,
  • EI Borges,
  • AVK Coelho,
  • SMCA Silva,
  • HRS Neto,
  • AJ Rocha

Journal volume & issue
Vol. 43
p. S198

Abstract

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Introdução: A leucoencefalopatia multifocal progressiva (LEMP) é uma doença desmielinizante do sistema nervoso central causada pela reativação do vírus John Cunningham (JC) em pacientes imunossuprimidos, principalmente com HIV, portadores de neoplasias hematológicas, receptores de transplante e drogas imunossupressoras. É uma complicação que acomete raramente os pacientes portadores de mieloma múltiplo, tendo alta taxa de mortalidade e sem uma terapia comprovadamente eficaz. Objetivos: relatar um caso de um paciente portador de mieloma múltiplo que foi diagnosticado com LEMP durante o tratamento com o daratumumabe. Relato de caso: paciente do gênero feminino, 61 anos, com diagnóstico de mieloma múltiplo cadeia leve ISS III, diagnosticado em dezembro 2017. Foi submetido a 4 ciclos de quimioterapia, protocolo VCD, com resposta mínima. Posteriormente recebeu o protocolo VTD com resposta parcial. Em janeiro de 2020, em razão da piora das lesões líticas, foi introduzido o daratumumabe, associado a ciclofosfamida e dexametasona. A ciclofosfamida foi suspensa devido a neutropenia, 10 meses após o início do tratamento. Em janeiro de 2021 apresentou perda da memória operacional, confusão mental e apatia. Houve piora progressiva do quadro de confusão mental, da memória, passando a apresentar também turvação visual e dificuldade para deambulação. No exame neurológico de março/2021 apresentava-se vigil, apática, resposta verbal confusa, hemiparesia direita completa grau IV, hiperreflexia global com reflexo cutâneo plantar em extensão bilateral, marcha lentificada, não cooperou para a avaliação da motricidade ocular, sensibilidade e coordenação motora. A RM de crânio mostrou: lesão com hipersinal em T2/FLAIR acometendo o tálamo, capsula interna, núcleo lentiforme e substância branca periventricular e profunda dos lobos frontal e parietal esquerdos. Análise do liquor mostrou: límpido; leucócito 1; hemácia 0; proteína 28 mg/dL; glicose 56 mg/dL; ADA 1.1U/L; VDRL não reagente; pesquisa negativa para os vírus citomegalovírus, herpes vírus e Epstein-Barr; PCR positivo para o vírus JC. Foi suspenso o daratumumabe. Nenhuma terapia especifica foi introduzido para o tratamento da LEMP e a paciente foi encaminhada para acompanhamento no serviço de cuidados paliativos. Discussão: a LEMP é uma doença considerada rara, mas que pode ser subdiagnosticada nos pacientes com mieloma múltiplo. Vários fatores poderiam levar a reativação do virus JC no caso relatado, entre elas, a própria doença, as drogas imunossupressoras (corticoide e ciclofosfamida) e o daratumumabe. Encontramos somente 2 relatos de caso na literatura que associou a terapia com daratumumabe e LEMP. Um paciente recebeu o anticorpo monoclonal com a pomalidomida e o outro, combinado com ciclofosfamida, bortezomibe e pomalidomida. Conclusão: é necessário mais relatos de casos para comprovar que o tratamento com daratumumabe pode aumentar o risco de LEMP, independente ou não de outros fatores, como o protocolo de drogas ultilizado e o status de resposta da doença.