Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2021)

TELEMEDICINA EM HEMATOLOGIA NÃO-MALIGNA A PARTIR DE SOLICITAÇÕES DE MÉDICOS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA: ANÁLISE PROSPECTIVA DE 790 CASOS CONSECUTIVOS

  • T Araujo,
  • KLC Machado,
  • JPR Baptista,
  • IS Boettcher,
  • MP Lacerda

Journal volume & issue
Vol. 43
p. S13

Abstract

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Introdução: Atendimentos Presenciais em Hematologia (APH) não estão disponíveis na maioria dos hospitais de Santa Catarina. A solicitação de Teleconsultoria Assíncrona em Hematologia (TAH) por parte do Médico da Atenção Primária (MAP) tem o potencial de ser uma ferramenta valiosa e custo-efetiva para pacientes e profissionais. Apesar de não ter sido avaliada prospectivamente em nossa realidade, TAH pode reduzir tempo por um APH, evitar consultas e deslocamentos desnecessários, e servir como uma ferramenta de educação do MAP em casos que poderiam requerer avaliação na hematologia. Objetivos: Avaliação prospectiva das TAH do Sistema Integrado Catarinense de Telemedicina, entre agosto de 2019 e julho de 2021, com determinação das principais características clínicas que levaram a um encaminhamento para a hematologia. Métodos: Todos os MAP do estado têm acesso ao Sistema Integrado Catarinense de Telemedicina, e as TAH são distribuídas aleatoriamente para os centros de referência em hematologia do estado. O HEMOSC - Joinville é um centro responsável por aproximadamente um quinto das TAH. A definição e classificação de gravidade de anemia da OMS foi utilizada. Para cada consulta, uma única hipótese diagnóstica principal foi estabelecida, baseando-se nos dados fornecidos. Resultados: 790 pacientes acima de 15 anos foram incluídos. A mediana de idade foi de 55 anos (variação interquartil, IQR: 39-70), com 282 pacientes (36%) com 60 anos ou mais. Sessenta por cento dos pacientes eram mulheres (n = 472). Os principais diagnósticos foram: anemia ferropriva (n = 123, 16%), anemia de causa indeterminada (n = 107, 14%), e trombocitopenia inexplicada (n = 102, 13%). Citopenias representaram 499 (63%) diagnósticos. Em 597 casos (76%), o hemograma completo anormal ou testes de coagulação foram a única razão para consulta. Diagnósticos hematológicos foram formulados adequadamente pelos médicos da atenção primária em 140 casos (18%). Hemograma completo foi reportado em 594 casos (75%), sendo a anemia leve o achado mais frequente (n = 188, 32%). A mediana da hemoglobina quando a anemia era o diagnóstico era de 10 g/dL (IQR: 8,7 - 11,1). Ausência de índices de hemácias, contagens diferenciais de leucócitos e contagens de plaquetas foram observadas em 261 (44%), 441 (74%) e 251 (42%) dos casos. O hemograma completo foi coletado 60 dias (ou mais) antes do HTC em 118 dos pacientes (20%) e nenhuma informação de hemograma completo foi fornecida para 196 pacientes (25%), 31% dos quais (n = 60) tinham citopenia como diagnóstico. Hemotransfusões foram relatadas dentro de 60 dias da TAH em 49 pacientes (6%), e avaliação de emergência foi sugerida pelo hematologista para 72 pacientes (9%). Além disso, 190 (24%) pacientes foram encaminhados para APH após a TAH, dos quais 21 (3%), 115 (15%) e 54 (7%) receberam baixa, intermediária e alta prioridade para consulta. Discussão: Durante o período de dois anos relatado, o acesso a TAH preveniu 3 em cada 4 consultas presenciais APH. Isso é especialmente relevante, considerando a necessidade de distanciamento social e os impactos socioeconômicos da Covid-19. Entretanto, interpretações e relatos inadequados de exames laboratoriais, e falha em associar sintomas e histórico cínico aos exames foram achados recorrentes. Conclusões: A interação entre MAP e especialistas é de grande valia e, através da telemedicina, pode beneficiar pacientes, melhorar indicadores de saúde e gerar educação médica continuada em hematologia.