Vista (Apr 2024)
Armando de Almeida. Lição de Resistência na Cultura de Corrida Portuguesa
Abstract
Em março de 1913, Armando de Almeida venceu a maratona da “Semana Desportiva” do jornal O Mundo. Em maio do mesmo ano repetiu a proeza ao vencer a maratona dos Jogos Olímpicos Nacionais, na altura, a mais importante competição de atletismo no país. Por essas vitórias, é considerado o campeão nacional da maratona para o ano de 1913 pela Federação Portuguesa de Atletismo. Recordemos que a Federação Portuguesa de Atletismo só existe formalmente desde 1921. É, conjuntamente, num contexto de grande perturbação político-social e num ecossistema elitista, programaticamente desestruturado, que Armando de Almeida se destaca do grupo matricial de atletas que tomavam parte nestas novas formas de lazer e demonstrações de cultura de massas — as corridas pedestres de longa distância. A sua presença ativa na cultura de corrida da metrópole é contemporânea com a origem e constituição do movimento negro (1911–1933) — pioneiro no combate político antirracista em Portugal. Neste texto, que tem como ponto de partida o resgate de fotografias e narrativas dos primórdios da história e da memória do atletismo português, procuramos biografar Armando de Almeida, num exercício simultâneo de empatia e militância como contributo para o debate, contrariando invisibilidades consequentes de negligências historiográficas. Tentamos, também, reconstituir a possibilidade de articulação entre os percursos emancipatórios do atleta com a organização de movimentos políticos e sociais no tumultuoso momento histórico da Primeira República, numa capital de império colonial, com expressiva presença de pessoas afrodescendentes, esse fenómeno histórico plurissecular.
Keywords