Manuscrítica (Jul 2021)
De Rossellini a Rossellini: dois processos de criação que se sobrepõem
Abstract
O cineasta italiano Roberto Rossellini foi, de todos os cineastas neorrealistas, quem levou ao cinema de ficção a estética documental em sua maior radicalidade. Em sua “trilogia da guerra”, constituída por Roma, cidade aberta, Paisà e Alemanha, ano zero, essa estética documental deriva em grande medida do uso de atores não profissionais, recrutados entre a população local, e da filmagem em locação. Na trilogia e em vários de seus filmes, anteriores e posteriores, seu irmão mais novo, o compositor Renzo Rossellini, assina as trilhas sonoras. No presente artigo, discutiremos os processos de criação e as escolhas estéticas de um e de outro, de modo a evidenciar o quanto, frequentemente, parecem chocar-se ou no mínimo sobrepor-se. Tomando por objeto o trabalho desenvolvido por ambos em Alemanha, ano zero, apresentaremos como ponto fulcral um gráfico – por nós elaborado – em que relacionaremos cinquenta e cinco sequências fílmicas à respectiva banda sonora, como meio de demonstrar nossa tese.