Revista do Museu de Arqueologia e Etnologia (Nov 2024)

Da energia vibrante da ancestralidade nas presas de um javali. Caça, artefatos de origem animal e povos indígenas no Brasil

  • Felipe F. Vander Velden

DOI
https://doi.org/10.11606/issn.2448-1750.revmae.2024.194269
Journal volume & issue
no. 42

Abstract

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Este artigo explora as múltiplas conexões socioculturais e naturais materializadas em um colar indígena à venda na internet e que ostenta um dente de javali (Sus scrofa), espécie exótica invasora estranha à fauna nativa brasileira. Por meio da noção de artefato multispécie, o texto discute noções de autenticidade, ancestralidade e indigenidade/indianidade, entre outras, tendo como pano de fundo a oposição entre nativo/autóctone e exótico/invasor que segue aplicada, em paralelo, tanto aos povos indígenas no Brasil quanto aos animais e outros seres não humanos. Assim, o que acontece quando um povo indígena no Nordeste do país, os Kariri-Xokó em Alagoas, na sua luta por uma indianidade autêntica e nativa e por melhores condições de existência, passa a produzir peças de arte/artesanato com partes de um animal não nativo (e ainda cercado por inúmeras controvérsias político-ecológicas)? Aqui, argumento que artefatos como esses podem ser muito úteis para reflexão sobre distintas camadas de sentido sociocultural e biocultural, especialmente àquelas vinculadas às relações entre coletivos humanos e seres outros-que-humanos, uma vez que tais objetos frequentemente parecem materializar relações diversas – caça, domesticação, familiarização, coleta, convívio, dominação, exploração, entre outras –, que nos informam sobre posições cosmológicas, interações técnicas, considerações éticas e percepções estéticas de animais e plantas, que se desdobram em contextos específicos de interação que constituem complexas paisagens biosocioculturais.

Keywords