Belas Infiéis (Jul 2019)
A literatura infantojuvenil e as amarras da literatura: arte com funcionalidade
Abstract
Informado pelos Estudos Descritivos da Tradução, este artigo problematiza algumas questões centrais para a literatura infantojuvenil (LIJ) e para a reescrita desse tipo de literatura. Com base na noção de reescrita de André Lefevere e no entendimento de que aspectos ideológicos e poetológicos condicionam a publicação de obras literárias, discute-se o caráter teleológico da LIJ, bem como as imposições de ordem cultural, ideológica ou mercadológica que podem interferir na criação da LIJ ou da literatura em geral. Considera-se que para a compreensão dos fenômenos tradutórios em dada cultura meta faz-se necessário analisar, além de aspectos literários, as condicionantes particulares dessa cultura, observando especialmente as propostas ou concepções de literatura e de sociedade por parte daqueles que atuam no processo de elaboração e difusão das reescritas. Observa-se ainda que diferentes perspectivas ideológicas e poetológicas podem ser entrevistas não somente na diacronia que separa as reescritas mais antigas das contemporâneas, mas também as reescritas publicadas em um mesmo momento histórico poderão apresentar propostas distintas, as quais são concretizadas, por meio de estratégias tradutórias, na própria reescrita, no modo de reler o Outro. Para isso, o artigo ilustra com exemplos concretos a discussão teórica apresentada, sendo abordados casos de projetos tradutórios em sistemas literários distintos, especificamente, Estados Unidos, Polônia e Brasil. Ao discutir as implicações de uma “literatura para” e abordar as fronteiras porosas entre os termos usualmente utilizados na reescrita de LIJ (tradução, adaptação, história recontada), este trabalho objetiva abordar a complexidade da LIJ quanto a sua própria definição e as suas formas de apresentação em detrimento de perspectivas que inserem a LIJ em uma posição de inferioridade ou à margem da literatura.
Keywords