Revista Portuguesa de Cardiologia (Oct 2013)

A ressonância magnética cardíaca como uma mais-valia no diagnóstico etiológico de arritmias ventriculares

  • Nuno Cabanelas,
  • Maria João Vidigal Ferreira,
  • Paulo Donato,
  • António Gaspar,
  • Joana Pinto,
  • Filipe Caseiro-Alves,
  • Luís Augusto Providência

Journal volume & issue
Vol. 32, no. 10
pp. 785 – 791

Abstract

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Resumo: Introdução: A ressonância magnética cardíaca (RMC) tem vindo a adquirir grande relevância na avaliação diagnóstica de um espectro cada vez mais amplo de cardiomiopatias, incluindo as que apresentam potencial arritmogénico. Objetivo: Avaliação do valor acrescentado da RMC no diagnóstico etiológico de arritmias ventriculares, quando a investigação convencional inicial com outros métodos complementares de diagnóstico não é conclusiva. Métodos: Estudaram-se retrospetivamente os doentes que realizaram RMC para esclarecimento da etiologia de arritmias ventriculares, entre 2005-2011 (n = 113). Foram incluídos apenas doentes com arritmias ventriculares documentadas. Constituíram critérios de exclusão a obtenção de diagnóstico definitivo por exame complementar, de diagnóstico realizado previamente e a presença de história prévia sugestiva de doença coronária (antecedentes de síndrome coronária aguda ou história de angor típico, de elevação de biomarcadores de necrose miocárdica ou teste de isquemia positivo, quando realizado). Os resultados da RMC foram considerados relevantes quando sugeriram um diagnóstico provável. Resultados: Dos 113 doentes incluídos, 57,5% eram homens. A idade média foi 41,7 ± 16,2 anos. Quanto à arritmia documentada, 38,1% dos doentes foram referenciados por taquicardia ventricular/fibrilhação ventricular (FV/TV mantida) e 61,9% por extrassistolia ventricular com menor complexidade (ESV). A RMC mostrou alterações sugestivas de um diagnóstico específico em 42,5% dos doentes, foi totalmente normal em 36,3% e mostrou alterações inespecíficas nos restantes. Nos casos de referenciação por FV/TV mantida a RMC foi diagnóstica em 60,4% dos casos, enquanto nos casos de ESV foi-o em 31,4%.Os diagnósticos prováveis mais frequentes foram displasia arritmogénica do ventrículo direito, não compactação ventricular e miopericardite. Assinala-se que, apesar da ausência de evidências clínicas sugestivas pelos critérios atrás referidos, 6,2% dos doentes apresentaram áreas de realce tardio com distribuição e características atribuíveis a doença coronária obstrutiva. Conclusão: A RMC proporciona valor acrescentado no diagnóstico etiológico de arritmias ventriculares quando exames mais acessíveis ou realizados previamente não são conclusivos. A percentagem de doentes em que foi conclusiva foi de 42,5% (60,4% nos casos de referenciação por FV/TV mantida) e em que foi totalmente normal foi de 36,3%. Abstract: Introduction: Cardiac magnetic resonance (CMR) imaging is increasingly important in the diagnostic work-up of a wide range of heart diseases, including those with arrhythmogenic potential. Objective: To assess the added value of CMR in etiological diagnosis of ventricular arrhythmias after an inconclusive conventional investigation. Methods: Patients undergoing CMR between 2005 and 2011 for investigation of ventricular arrhythmias were included (n=113). All had documented arrhythmias. Those with a definite diagnosis from a previous investigation and those with evidence of coronary artery disease (acute coronary syndrome, typical angina symptoms, increase in biomarkers or positive stress test) were excluded. CMR results were considered relevant when they fulfilled diagnostic criteria. Results: Of the 113 patients, 57.5% were male and mean age was 41.7±16.2 years. Regarding the initial arrhythmia, 38.1% had ventricular fibrillation/sustained ventricular tachycardia (VF/VT) and 61.9% had less complex ventricular ectopy. CMR imaging showed criteria of a specific diagnosis in 42.5% of patients, was totally normal in 36.3%, and showed non-specific alterations in the remainder. In VF/VT patients, specific criteria were found in 60.4%, and in 31.4% of those with less complex ectopy.The most frequent diagnoses were arrhythmogenic right ventricular dysplasia, ventricular non-compaction and myopericarditis. It is worth noting that, although there was no evidence of previous coronary artery disease, 6.2% of patients had a late gadolinium enhancement distribution pattern compatible with myocardial infarction. Conclusion: CMR gives additional and important information in the diagnostic work-up of ventricular arrhythmias after an inconclusive initial investigation. The proportion of patients with diagnostic criteria was 42.5% (60.0% in those with VF/VT), and CMR was completely normal in 36.6%. Palavras-chave: Ressonância magnética cardíaca, Etiologia de arritmias ventriculares, Substrato arritmogénico, Keywords: Cardiac magnetic resonance, Diagnosis of ventricular arrhythmias, Arrhythmogenic substrate