Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA CONGÊNITA: RELATO DE CASO

  • GM Queiroz,
  • TLa Marques,
  • VN Veras,
  • ACM Dantas,
  • GFN Bezerra,
  • LB Lima,
  • PCLR Lima,
  • WCM Filho,
  • LA Corrêa,
  • RDA Soares

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S592 – S593

Abstract

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Introdução/objetivos: A Leucemia Congênita (LC) ocorre no primeiro mês de vida e corresponde a menos de 1% das leucemias na pediatria. É uma entidade rara, apresentando-se como doença agressiva e de mau prognóstico. Esse trabalho tem por objetivo descrever um caso raro e de desfecho fatal de Leucemia Mieloide Aguda (LM) congênita. Relato de caso: Paciente nascido a termo, 37 semanas e 2 dias de idade gestacional, parto vaginal. Mãe secundigesta, pré-natal completo em serviço de alto risco devido hipotireoidismo materno, controlado com medicação, e COVID-19 no segundo trimestre gestacional. Ao nascimento, aventada hipótese de Síndrome de Down. Evoluiu com rash no primeiro dia de vida, predominantemente em face, especialmente em região malar bilateral, progredindo com apresentação craniocaudal. Ao exame físico, fígado palpável a 1 cm do rebordo costal direito, exantema e petéquias difusas, sem outras alterações. Realizados exames laboratoriais, com Hemoglobina (Hb) 16,2 g/dL, Hematócrito (Ht) 44,5%, leucócitos/89.600 mm3 (segmentados 20% e linfócitos 75%) e plaquetas 48.000 mm3. Iniciada antibioticoterapia e prosseguido com investigação para quadro mieloproliferativo. Admitido em Unidade de Terapia Intensiva neonatal no terceiro dia de vida devido desconforto respiratório. Lesões cutâneas evoluíram para pápulas disseminadas e lesões crostosas, sem secreção purulenta. Colocado em O2 suplementar por CPAP nasal por piora respiratória. Avaliação cardiológica evidenciou Persistência do Canal Arterial (1,5 mm) sem repercussão e Estenose Pulmonar, sem necessidade de tratamento medicamentoso. Colhida imunofenotipagem e citogenética, confirmada Leucemia Mieloide Agudatipo M7 e Síndrome de Down. Com 16 dias de vida, iniciada quimioterapia com dose intratecal protocolo AML-BFM2004-DOWN, com conversão da Idarrubicina para doxorrubicina, devido a indisponibilidade do primeiro. Após 45 dias do início do tratamento, apresentava neutropenia (110 leucócitos), plaquetopenia (12 mil) e sepse, evoluindo para o óbito. Resultado de Doença Residual Mínima não disponível. Discussão: Casos de LC ocorrem em menos de 5 a cada 1 milhão de nascidos vivos, sendo 80% dos casos o subtipo mieloide. Aproximadamente 70% estão associadas a anormalidades cariotípicas e possuem características de alto risco. No caso em questão, tinha-se uma LC do timo mieloide M7, o que conferia um prognóstico ainda mais reservado. Acometimento cutâneo é uma importante manifestação da LC, devendo ser um diagnóstico diferencial de lesões dermatológicas no período neonatal. O quadro também pode se manifestar com hiperleucocitose, hepatoesplenomegalia e acometimento de sistema nervoso central. O estudo citogenético é importante no diagnóstico, prognóstico e monitoramento do tratamento. Em alguns relatos, são descritos rearranjos gênicos, sendo t(4;11)(q21;q23), KMT2A-AFF1 de pior prognóstico. O cariótipo convencional auxilia na detecção de anormalidades numéricas e estruturais, como ocorrido no caso descrito. O tratamento é agressivo e as taxas de mortalidade são altas, com uma sobrevida de cerca de 25% em dois anos. Conclusão: A LMA congênita é uma doença rara e de prognóstico desafiador, não existindo ainda consenso no seu manejo. As taxas de sobrevida permanecem insatisfatórias apesar dos protocolos já existentes. Ressalta-se a importância do reconhecimento precoce da patologia frente à sua gravidade.