Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2024)
EP-342 - RELATO DE CASO DE ENDOCARDITE POR LACTOCOCCUS GARVIEAE: UM DESAFIO ÀS PARTICULARIDADES SÓCIO DEMOGRÁFICAS BRASILEIRAS
Abstract
Introdução: A endocardite infecciosa é uma doença infecciosa rara, com alta taxa de mortalidade, sendo fundamental o diagnóstico e tratamento precoce no ambiente hospitalar para assegurar um bom prognóstico. A maioria dos quadros são provocados por bactérias típicas (Streptococcus, Staphylococcus e Enterococcus). Porém, agentes atípicos não devem ser negligenciados, pois o diagnóstico tardio pode ter consequências graves. O Lactococcus garvieae é um coco gram positivo com capacidade de contaminação em humanos pelo consumo de peixe cru, sendo descrito em apenas 25 casos de endocardite infecciosa no mundo. Objetivo: Relatar um caso de Endocardite Infecciosa provocada por um patógeno raro no Brasil e discutir os desafios e complexidades do diagnóstico, prognóstico e plano terapêutico. Método: : As informações foram obtidas por meio de revisão do prontuário e revisão da literatura dos casos já descritos. Resultados: Homem, 81 anos, com histórico de cirurgia prévia no trato gastroinstestinal e consumo habitual de peixes, apresentou quadro de rebaixamento do nível de consciência, febre e dor abdominal com necessidade de internação hospitalar para investigação etiológica. Foi estabelecido diagnóstico de endocardite infecciosa de acordo com os critérios de Duke modificados, pontuando 1 critério maior e 3 critério menores, sendo esses respectivamente presença de alteração típica em ecocardiograma, duas hemoculturas positivas e confirmadas com mais duas amostras de sítios diferentes para Lactococcus garvieae, febre e fenômeno vascular associado. Dessa forma, foi instituído tratamento com antibioticoterapia empírica com oxacilina, ampicilina e gentamicina por 28 dias. O paciente apresentou melhora do quadro e possibilidade de alta hospitalar. Conclusão: O diagnóstico de endocardite pelo Lactococcus garvieae é um desafio, principalmente devido à dificuldade técnica de isolamento do patógeno, que é considerado raro, e à baixa disponibilidade de recursos em locais com maior consumo de peixes, como regiões litorâneas e ribeirinhas. Acredita-se que pode haver um subdiagnóstico dessa patologia no Brasil. A diversidade cultural e populacional interferem na dispersão e variabilidade epidemiológica das doenças infectocontagiosas no território nacional e precisam ser consideradas para melhor orientação e ampliação de investimentos e direcionamento recursos diagnóstico e terapêuticos de infecções ameaçadoras à vida, como a endocardite infecciosa.