Convergência Lusíada (Dec 2001)
Da liberdade na servidão - a propósito de alguns poemas brasileiros de Vitorino Nemésio
Abstract
Há coisas difíceis de dizer. Há textos que já nascem prontos e outros que estão incessantemente a se refazer. E o caso deste texto que já foi escrito e reescrito dezenas de vezes sem chegar a lugar algum. Mas quero crer que a vida é graça oferecida somente aos persistentes e mais uma vez aqui recomeço, novamente ameaçada pela terrível página em branco. Primeiramente, é preciso que se diga que não acho nada fácil falar dos poemas brasileiros de Vitorino Nemésio. Falar do imaginário alheio já é tarefa por demais difícil para que a ela se acrescente o fato de serem estes poemas - para além de tudo o que possam ser - o produto do olhar de um português sobre o que ele julgou que fosse o Brasil. Caio, portanto, num difícil lugar, já que é com um olhar brasileiro que estarei a reler este olhar português lançado sobre uma realidade que me sinto mais apta a ajuizar. Este texto é, pois, de saída, um jogo de enganos, porque nem o Brasil é o que a poesia de Nemésio recriou, nem é o que meus olhos julgam ver. Talvez o Brasil esteja a meio caminho entre aquilo que acho que ele seja e aquilo que Nemésio poeticamente desejou que ele fosse.