GERENCIAMENTO DE SANGUE DO PACIENTE (PATIENT BLOOD MANAGEMENT – PBM) DA IMPLEMENTAÇÃO À PRÁTICA: EXPERIÊNCIA EM UM HEMOCENTRO NO CEARÁ

Abstract

Patient Blood Management (PBM) consiste em uma abordagem multidisciplinar que visa otimizar o cuidado do paciente que possa vir a necessitar de transfusão. Assim, seu objetivo é que a transfusão dos hemocomponentes ocorra quando realmente há indicação baseada em evidências e quando for a única possibilidade terapêutica disponível. Em muitas situações, a transfusão pode ser evitada se outras intervenções apropriadas forem realizadas em tempo hábil, como diagnóstico e tratamento precoces da anemia, redução de perdas sanguíneas e utilização de medicamentos de suporte à eritropoese. Sabe-se que a transfusão de hemocomponentes está associada a várias eventos adversas como reações imunológicas, sobrecarga volêmica, dentre outras. Assim, uma abordagem adequada significa menos risco ao paciente e menor custo ao sistema de saúde. Este trabalho tem por objetivo apresentar as ações feitas para a implementação do protocolo de PBM no Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), assim como detalhar o perfil do consumo dos medicamentos padronizados para este protocolo nos últimos seis anos desde a sua efetivação. Para tanto, foi realizada a análise retrospectiva dos relatórios de consumo, obtidos a partir de sistema informatizado próprio do Hemoce, com dados estratificados por hemocentro e por tipo de medicamento do protocolo. Em 2016 houve a primeira reunião para discussão do protocolo de suporte medicamentoso ao PBM no Hemoce, com decisão de padronização do ferro endovenoso (sacarato de hidróxido férrico 100 mg), seguido da inclusão de mais dois medicamentos, alfaepoetina 10.000 UI e vitamina B12 5000 mcg (intramuscular), ambos em 2019. Para a normatização na instituição, foi criado o protocolo médico para o uso de medicamentos de suporte ao PBM, assim como o protocolo de dispensação pelas farmácias da hemorrede. Em 2017 foi iniciada a descentralização para os hemocentros regionais de Crato, Sobral, Iguatu e Quixadá, com ampliação do atendimento também aos hospitais e Unidades de Pronto Atendimento (UPA) do estado. Em 2021, o site do Hemoce foi atualizado, com a inclusão de informações de como essas unidades de saúde devem proceder para a solicitação desses medicamentos ao hemocentro, incluindo a discussão do caso clínico com hemoterapeuta do Hemoce para auxílio na indicação do uso dessas drogas. Durante o período de 2016 a 2022, observou-se que o consumo de ferro endovenoso, vitamina B12 e alfaepoetina foi de 19.373, 2.030 e 271 ampolas, respectivamente. Durante o atendimento de um paciente com anemia, sempre deve ser avaliada sua causa, para que, se possível, seja iniciado um tratamento específico o mais precocemente possível, evitando a realização de transfusões desnecessárias. Desse modo, a implementação do PBM na hemorrede estadual do Ceará tem proporcionado o uso racional do sangue e o melhor gerenciamento deste, trazendo mais qualidade e segurança na assistência aos pacientes e demostrando a importância da expansão desta prática em outras unidades assistenciais de saúde.