Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

ESCAPE VIRAL NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E ENCEFALITE CD8+ EM PESSOA VIVENDO COM HIV: PRIMEIRO RELATO DE CASO NO BRASIL E IMPORTÂNCIA DO DIAGNÓSTICO MINIMAMENTE INVASIVO

  • José Ernesto Vidal,
  • Iron Dangoni Filho,
  • Ingrid Barboza,
  • Jerusa Smid

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 103004

Abstract

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Introdução: O sistema nervoso central (SNC) é um reservatório do HIV, a partir do qual pode acontecer escape viral sintomático, independentemente do controle da replicação sistêmica. Nesse cenário, tem sido descritos alguns casos de encefalite CD8+, classicamente diagnosticados mediante biópsias cerebrais. Neste estudo, apresentamos um caso de escape viral no SNC e encefalite CD8+ em pessoa vivendo com HIV (PVHIV), destacando a importância do diagnóstico minimamente invasivo e tratamento oportuno. Relato do caso: Paciente de 35 anos de idade foi trazido por familiares ao Pronto Socorro, devido à presença de alteração comportamental nos últimos dois meses e crises convulsivas no último dia. O paciente tinha diagnóstico de infecção por HIV-1 desde 2002 e usava regularmente tenofovir, lamivudina, darunavir/ritonavir com controle laboratorial de longa data (CD4+ = 568 células/mm3 e carga viral do HIV-1 < 40 cópias/mL). Ao exame neurológico, foi evidenciado alentecimento psicomotor, desorientação e afasia global. O Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) mostrou 16/30 pontos e a Escala Internacional de Demência por HIV (IHDS) mostrou 5,5 pontos. A ressonância magnética (RM) mostrou hipersinal difuso em T2/FLAIR nas substâncias branca e cinzenta, e realce perivenular em T1-Gd. O líquor mostrou pleocitose linfomonocitária (72 células/mL), elevação de proteínas (300 mg/dL), carga viral do HIV-1 de 420 cópias/mL e imunofenotipagem com 73% de linfócitos CD8+. As pesquisas etiológicas para outros microorganismos foram negativas. Foram prescritos anticonvulsivantes e metilprednisolona 1 g/dia durante 5 dias. A partir do terceiro dia, o paciente teve importante melhora neurológica. Após pulsoterapia, foi iniciada prednisona 1 mg/kg com orientação para redução progressiva até sua descontinuação. Após 3 semanas de hospitalização, o paciente teve alta com discreta alteração de memória, MEEM de 29/30, IHDS de 10, e em uso de tenofovir, lamivudina, darunavir/ritonavir, dolutegravir, e etravirina. Três meses após a alta, o paciente mantinha discreta alteração de memória, mas tinha retornado ao trabalho. Uma nova RM mostrou melhora inequívoca das alterações prévias e o líquor mostrou discreta proteinorraquia e carga viral do HIV-1 indetectável. Comentários: O diagnóstico do escape viral e encefalite CD8+ em PVHIV pode prescindir de biópsia cerebral. A pulsoterapia deve ser oportuna e a terapia antirretroviral deve ser otimizada, visando o controle da replicação liquórica.

Keywords