Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)

DOENÇA HEMOLÍTICA FETO E RECÉM-NASCIDO POR INCOMPATIBILIDADE ABO. RELATO DE CASO

  • SL Castilho,
  • TC Susana,
  • F Porto,
  • C Gonçalves,
  • FKG Silva,
  • LM Olveira,
  • RS Malfa,
  • HF Ferreira

Journal volume & issue
Vol. 45
pp. S636 – S637

Abstract

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Introdução: A Doença Hemolítica Feto e Recém-Nascido (DHFRN), se caracteriza por um quadro de destruição das hemácias fetais e/ou do Recém-Nato (RN) devido a presença de Anticorpos (Ac) IgG maternos que atravessam a barreira placentária e se ligam a antígenos de herança paterna presentes nas hemácias fetais ou do RN provocando sensibilização e hemólise. Estes anticorpos podem ser naturais (sistema ABO) ou imunes (Sistemas Rh, K, JK, etc.) adquiridos por transfusões ou gestações anteriores ou devido a sangramento feto-materno em gestação atual. O grau de hemólise e o quadro clínico da DHFRN é multifatorial. Na Incompatibilidade Rh (D) as consequências clínicas são mais exuberantes. Na incompatibilidade ABO o mais comum é por mãe O+ e RN A+ e de uma forma geral o quadro clínico é leve e muitas vezes assintomático. Relato de caso: RN a termo, 38 semanas, peso 2785g, nascido de parto vaginal, Apgar 9/9. Com 13 horas de vida apresenta icterícia com BT = 16,8 mg/dL, BI = 14,9 mg/dL, Ht = 34,9% e Hb = 11,6 g/dL quando iniciada a fototerapia tríplice. Segue com piora clínica, apresenta letargia e queda do Ht que chega a 24% no D3. Iniciada a investigação de hemólise imunológica. Grupo sanguíneo (GS) materno O+, Pesquisa de anticorpos Irregulares (PAI) negativa. GS paterno AB+. Dados do RN: GS A+, Teste da antiglobulina Humana direto (TAD) 1+. Para caracterizar o anticorpo presente nas hemácias do RN, foi realizada eluição direta e testado o eluato em Cartão Gel/Liss/Coombs com as hemácias de Triagem I, II e hemácias A1 e B. O resultado do teste com hemácias de Triagem I e II foi negativo e com hemácias A1 e B 4+. Discussão: A PAI materna é negativa o que exclui a incompatibilidade por grupos sanguíneos diferentes do ABO. O TAD+ do RN demonstra a possibilidade de hemólise imunológica. O teste de eluição direta a partir das hemácias fetais foi positiva apenas com hemácias A1 e B e demonstra que o anticorpo eluído é anti-AB. Realizado então a titulação do anticorpo anti-AB no plasma materno e o título foi 1024. Indivíduos do grupo O apresentam anticorpos anti-AB que se ligam tanto a hemácias A quanto B. Estes resultados caracterizam quadro de Incompatibilidade ABO. O título do anticorpo ABO materno é extremamente alto. Foge a média encontrada em doadores de sangue do grupo O que é de 128. Isto justifica o quadro clínico importante no RN. O RN é A+ mas devido a presença do anti-AB materno no seu plasma deve ser transfundido com Concentrado de Hemácias (CH) do grupo O. O RN recebeu 1 CH O+ com ótimo aproveitamento e seguiu em fototerapia. No D9 embora ainda com TAD+ fraco, Ht = 38%, Hb = 13,4 g/dL e BT = 3 mg/dL, BI = 2,8 mg/dL. Conclusão: Em geral, a hemólise imunológica só é investigada em gestantes e/ou puérperas Rh (D) negativas. É importante ter em mente que outros sistemas eritrocitários podem estar associados a quadros de DHFRN. Na exclusão da doença por anticorpos relacionados a outros sistemas, a incompatibilidade ABO deve ser investigada para que o suporte transfusional a estes RN possa se dar realizado adequadamente através da seleção do CH negativo para o antígeno correspondente ao anticorpo materno.