Mana (Oct 2010)

O antropólogo como "espião": das acusações públicas à construção das perspectivas nativas The anthropologist as 'spy': from public accusations to the construction of native perspectives

  • Diego Zenobi

DOI
https://doi.org/10.1590/S0104-93132010000200009
Journal volume & issue
Vol. 16, no. 2
pp. 471 – 499

Abstract

Read online

Nos últimos anos, parte da academia norte-americana mobilizou-se em torno de um grande debate sobre "antropologia e espionagem". As acusações feitas sobre alguns colegas eram motivadas pela preocupação com o uso que poderia ser feito do conhecimento gerado no trabalho de campo. Elas expressavam que os antropólogos podem ser considerados sujeitos perigosos para as populações estudadas. Respondendo às mesmas inquietações, em algumas ocasiões, nós, os antropólogos, também somos objeto de acusações feitas pelos "nossos" nativos. Neste artigo, proponho-me a analisar dois episódios ocorridos durante o trabalho de campo que realizei junto a uma turma de parentes de vítimas de um incêndio na cidade de Buenos Aires. Enquanto desenvolvia meu trabalho, enfatizou-se publicamente e em duas oportunidades a possibilidade de que eu fosse um "infiltrado" que estivesse espionando as ações e debates em que eram protagonistas. Com o objetivo de reconstruir as perspectivas das pessoas que me acusaram, proponho transformar esses acontecimentos, de aparência anedótica e pessoal, em perguntas de pesquisa. Inspirado em algumas ideias surgidas no campo de estudos sobre acusações de bruxaria, proporei uma análise voltada para iluminar a dinâmica do campo no qual as acusações foram produzidas. Do mesmo modo, tentarei ressituar meu papel como produtor de conhecimento.In recent years, some American scholars have become embroiled in an extensive debate on 'anthropology and espionage.' The accusations levelled at some colleagues have been prompted by concerns over the potential use of knowledge generated during fieldwork. These accusations have shown that anthropologists can be regarded as 'dangerous' to the populations under study. Echoing the same kinds of concern, sometimes anthropologists are accused by 'their' natives themselves. In this article I discuss two episodes that occurred during my own fieldwork among a group of relatives of victims of a fire in Buenos Aires. On two different occasions during my fieldwork I was publicly accused of being an infiltrado, or inside agent, sent to spy on their actions and conversations. My aim here is to transform these apparently personal and anecdotal episodes into research questions capable of providing an insight into the perspectives of those accusing me. Inspired by other anthropological studies of witchcraft accusations, I look to analyze the dynamics of the social field in which the accusations were produced, simultaneously resituating my own role as a producer of knowledge.

Keywords