Signo (Jul 2014)
Narrativa e leitura: da experiência às letras
Abstract
Na sociedade contemporânea, a morte se apresenta como o trágico destino da experiência. A urgência da informação, o imperativo do julgamento, a velocidade e o excesso de atividade tornam a possibilidade de que algo nos aconteça, ou de que algo nos toque, cada vez mais remota. Desse modo, espera-se, desde Benjamin (1979), que a narrativa tradicional, profundamente atrelada à experiência, tenha o mesmo fim. Entretanto, a vida tem seus artifícios e sempre encontra meios de se dizer. Mesmo no cenário atual, diferentes leituras do mundo, ‘histórias vividas’ inscrevem-se (e escrevem-se) no texto escrito do narrador contemporâneo. Assim, as narrativas, dinâmicas, escapando à ordem do necessário e/ou do real sobrevivem para serem lidas e recontadas. A fim de ilustrar a permanência da tradicionalidade na figura do narrador contemporâneo tomamos um trecho do texto de incontestável literariedade “Mitos brasileiros de origem: a arte de contar histórias e a tradição indígena”, de Francisco Gregório Filho. Nesse texto, o autor percorre os tempos de sua história familiar, apresentando os momentos que, atualizados e ressignificados, constroem sua identidade como narrador. Interessa-nos observar como o narrador tradicional contemporâneo recolhe sua história na experiência, tornando-a ‘escrevível’, e como a história pode transformar-se novamente em experiência para os/nos leitores. Nesse percurso, trilhamos as veredas da memória, da identidade e da multiplicidade. Iluminam nosso caminho as palavras de Larrosa (2002), Delgado (2006), Yunes (2003a, 2003b, 2012), Bosi (1987), entre outros.