Raído (Jan 2016)
Entre a cruz e a espada ou práticas culturais sob vigilância: René Descartes, Machado de Assis e a recepção crítica
Abstract
Partimos de dois pressupostos: a cultura ocidental poderia ser vista como uma amálgama da cosmovisão judaico-cristã (MARCONDES 2006) e as formas simples (JOLLES, 1976) como formulações de resquícios de experiências sociais compartilhadas por determinadas comunidades. Esta torna-se ferramenta metodológica para observarmos como a formulação “entre a cruz e a espada” pode sintetizar, aproximar e explicar a vigilância exercida, na filosofia e na literatura, por censores culturais que detém o poder simbólico (BOURDIER, 2011) de legitimação de tais práticas culturais. Embora distantes no tempo, o tecido sociocultural parece nos dar subsídios para aproximá-los num espaço em que filosofia e literatura encontravam-se sob vigilância. Nossa hipótese: caso Machado não tivesse se ajustado às exigências da crítica oitocentista, como parece ter sido o caso, a história poderia ter sido outra. Em alguma medida, parece que se Descartes não tivesse feito o mesmo, a história também poderia ter sido outra. Hipóteses contrafactuais, sem dúvida - mas elas provêm de oposições reais, como mostraremos. Então, poderíamos pensar na complexidade de tais práticas, ao invés de ver o francês como ingênuo, como acontece com algumas leituras apressadas do Discurso do método, e o brasileiro como gênio, como ocorre em alguns manuais de literatura, que o vê acima de questões históricas.