Classica, Revista Brasileira de Estudos Clássicos (Apr 2021)

Cnêmon, o injustiçado

  • Geruza de Souza Graebin

DOI
https://doi.org/10.24277/classica.v34i1.863
Journal volume & issue
Vol. 34, no. 1

Abstract

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No primeiro livro do romance Etiópicas, Cnêmon, o prisioneiro dos piratas do Nilo, torna-se o intérprete dos protagonistas Teágenes e Caricleia, para quem narra os seus infortúnios. Dentre as histórias, consta o relato do julgamento ao qual ele, um ateniense de família distinta, foi submetido, sob a acusação de tentativa de parricídio. Na versão de Cnêmon, os juízes são evidentemente levados pelo πάθος e pelo ἦθος dos acusadores, enquanto ele, como réu, tem seus direitos de fala cerceados. A análise desse relato secundário, que pode ser considerado um romance dentro do romance, fornece elementos fundamentais sobre a noção de δίκη. Se, por um lado, o contexto imediato do julgamento ao qual Cnêmon faz menção leva à conclusão de que ele foi, de fato, prejudicado pela justiça humana (Etiop.,1.13), por outro, o contexto maior do relato dá a entender que ele é protegido e vingado pela Δίκη (Etiop.,1.14.4). A reflexão a respeito da atuação da justiça, introduzida no romance via esse relato secundário, é retomada em outros pontos do romance, evidenciando a utilização de técnicas narrativas com fins argumentativos pelo autor das Etiópicas.

Keywords