Forma Breve (Jun 2020)
Afigurações do sagrado e do profano na obra de João Pedro Oliveira a partir do Livro do Apocalipse e da poesia de Antero de Quental
Abstract
Desenvolvendo-se em vastos e diversos campos do conhecimento, utilizando processos de formalização provenientes de outros domínios do saber, que não só o musical, a música de João Pedro Oliveira permite-nos a abordagem de princípios distintos na conceção do seu universo sonoro e musical. Ao analisarmos o seu catálogo de obras deparamo-nos com um conjunto de peças que revelam a presença dum imaginário e de uma temática, que buscam nos escritos sagrados o seu fundamento. Segundo o autor, “A Cidade Eterna” (1988) pertence a um ciclo de sete peças, originalmente pensado, como sendo uma evocação, em termos musicais, das profecias contidas no livro do “Apocalipse”. Através dela, o compositor realizou uma reflexão pessoal sobre o mistério da criação artística. A palavra “Apocalipse” traduz a ideia de “revelação”, como qualquer coisa que não é criada pelas mãos do homem, mas que é transmitida por Deus. Através desta obra, mas também de “A Escada Estreita” (1999), baseado no poema de Antero de Quental “Na mão de Deus”, o autor revela-nos não só uma sua ideia de “revelação” e “criação”, como a progressiva dissolução da fronteira entre a música eletrónica e a música instrumental, elemento fundamental para a definição das suas características técnicas, estilísticas e estéticas. As técnicas discursivas e compositivas que nelas expõe, bem como os arquétipos que aí expõe, serão alvo da nossa análise e reflexão para que possamos apresentar a forma como estas obras se tornam exemplos de um poético que se faz musical, denunciando uma perspetiva de evolução técnica, estilística e estética do autor. Neste texto pretendemos ainda mostrar a dualidade e multiplicidade de formas de se dizer uma sua ideia de sagrado, naquilo que se faz, e traduz, conteúdo e imaginário, profanos, a obra de arte musical.
Keywords