Cadernos de Linguística (Nov 2021)
Predicação secundária depictiva
Abstract
Este artigo relata os principais resultados de Ferreira (2017), dissertação que investiga construções de predicação secundária no português brasileiro (PB), como “O João leu a carta cansado” e “O João comeu a carne crua”, caracterizadas pelo fato de um mesmo argumento ser partilhado por dois predicados: o predicado da oração matriz e o adjetivo, predicado secundário depictivo (cf. HIMMELMANN; SCHULTZE-BERNDT, 2005). Há na literatura um intenso debate sobre essas construções, voltado especialmente a determinar se o depictivo e seu sujeito formam ou não um constituinte small clause (SC) e se, havendo uma SC, seu sujeito seria PRO (cf. WINKLER, 1997). Outra questão importante, mas menos explorada na literatura, refere-se ao mecanismo de concordância operante nessas sentenças. Diante desse cenário, abordaremos neste artigo: (i) argumentos apresentados em Ferreira (2017) em defesa de uma SC adjunta; (ii) a proposta minimalista de derivação dessas construções apresentada pela autora, que assume não haver PRO na SC, e sim o movimento lateral do DP (NUNES, 2004) da SC para uma posição-θ na oração matriz, sendo o núcleo da SC um Asp φ-incompleto, que estabelece com o DP uma relação de Agree (CHOMSKY, 2000, 2001). Tal proposta, entendida como uma consequência da teoria de controle como movimento (HORNSTEIN, 1999, 2001), tem a vantagem de dispensar PRO e unificar o tratamento de concordância no âmbito das predicações primária e secundária. A dupla atribuição de papel-θ ao DP partilhado pelos dois predicados também é abordada no trabalho.
Keywords