Diacrítica (Jul 2020)
Resiliência criativa no feminino e re-significação da história em contraponto com a ‘manipulação de género’ do Estado Novo
Abstract
Este ensaio é composto por duas secções que dialogam entre si e se iluminam reciprocamente. Discute-se em primeiro lugar a imagem icónica de Salazar enquanto ‘salvador moral da pátria’, incarnando a figura do ‘Desejado’, tal como construída e amplamente disseminada pela ideologia do Estado Novo, tendo António Ferro como seu principal mentor e ideólogo cultural. Discute-se de seguida o modo como o ‘discurso da domesticidade’, profundamente ancorado numa dupla premissa –a manipulação de género e a cumplicidade das mulheres –se constituiu como uma ideologia fundamental de sustentação do Estado Novo. Na segunda parte deste ensaio apresentamos um estudo de caso, a obra da pintora Paula Rego criada ao longo dos anos 1960 e 1970, a qual, com acutilância satírica e política, desconstrói, expõe e confronta essa mesma ideologia do poder instituído.