Revista Portuguesa de Pneumologia (May 2006)
Estudo em fase III da utilização de talco em pó versus talco slurry na esclerose do derrame pleural maligno Phase III intergroup study of talc poudrage vs talc slurry sclerosis for malignant pleural effusion
Abstract
Com o objectivo de demonstrar a eficácia, segurança e técnica apropriada de instilação de talco para a pleurodese do derrame pleural maligno, os autores efectuaram um estudo prospectivo e randomizado comparando a esclerose com talco em pó versus talco slurry (lama de talco). O estudo englobou 482 doentes com derrame pleural maligno que foram submetidos a pleurodese e que foram divididos em 2 grupos: grupo A com 242 doentes onde se efectuou pleurodese com talco em pó, e grupo B com 240 doentes, onde se utilizou talco slurry. A dose de talco utilizada nos 2 grupos foi de 4 a 5 gr. Os critérios de inclusão no estudo passaram pelo diagnóstico de neoplasia, derrame pleural maligno necessitando de esclerose, esperança de vida superior a 2 meses, status performance aceitável e condições físicas para anestesia geral. Os critérios de exclusão incluíram a gravidez, esclerose pleural prévias, radioterapia a um hemitórax em toda a sua extensão, derrame pleural quiloso ou bilateral e alterações da terapêutica sistémica nas 2 semanas previas à pleurodese. Os dados demográficos e a doença maligna de base eram semelhantes nos 2 grupos A primeira meta do estudo foi a avaliação radiológica do tórax ao fim de 30 dias após a pleurodese com o talco em pó ou slurry. A evidência de recorrência ou não de derrame pleural, a morbilidade, a mortalidade e a qualidade de vida dos doentes sobreviventes aos 30 dias foram avaliadas. Sequencialmente os doentes efectuaram radiografias torácicas mensalmente até aos 6 meses após o procedimento ou morte do doente. A percentagem de doentes que ao fim dos 30 dias se manteve sem derrame pleural foi semelhante nos 2 grupos (78% no grupo A e 71% no grupo B ), com 14% de mortalidade no primeiro grupo e 20% no grupo B. Contudo, o subgrupo de doentes com neoplasia da mama e do pulmão obtiveram maior sucesso com o talco em pó do que com o talco slurry ( 82% versus 67%). A morbilidade da pleurodese inclui febre, dispneia e dor torácica. As complicações respiratórias foram mais comuns após a pleurodese com talco em pó (14% versus 6% com talco slurry), com desenvolvimento de insuficiência respiratória em 8% dos doentes do grupo A e 4% do grupo B. Na avaliação da qualidade de vida, demonstrou-se menor fadiga no grupo A. Os autores concluíram não haver diferença significativa em termos de eficácia com a utilização de talco em pó ou talco slurry, na pleurodese de derrames pleurais malignos.