Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2023)
ESTRATÉGIAS DE CONTROLE DE RISCO BACTERIANO RELACIONADAS A DISPONIBILIDADE DE PLAQUETAS PARA TRANSFUSÃO
Abstract
Introdução: A literatura médica relata que a contaminação bacteriana em um hemocomponente pode variar de 0,04% a 2%, dependendo do tipo do componente sanguíneo. A infusão de um produto sanguíneo contaminado é a causa de quadros clínicos graves. Endotoxinas causadas por bactérias Gram-negativas podem ocasionar elevação de temperatura, vasodilatação periférica, hemoglobinúria, coagulação intravascular disseminada, dor abdominal, vômitos, diarreia e choque séptico. As fontes de contaminação são variadas podendo ocorrer em várias etapas do ciclo do sangue e os principais fatores para a contaminação podem estar relacionados a antissepsia inadequada no momento da coleta do sangue ou falhas nas etapas de processamento ou armazenamento. Hoje são realizados controles microbiológicos rigorosos sobre a produção dos hemocomponentes plaquetários para garantir a qualidade e a segurança transfusional. Nestes controles estão inclusos a realização periódica e contínua da avaliação da antissepsia do braço dos doadores através de testes de cultura pré e pós limpeza e antissepsia do local puncionável. Objetivos: O presente estudo tem por objetivo apresentar estratégias adotadas pelo banco de sangue Hemolabor para controle bacteriano relacionado à hemocomponentes plaquetários. Materiais e métodos: Conforme recomendações do FDA (Federal Drug Administration) e com base nas estratégias descritas no boletim da Associação Americana de Bancos de Sangue #21-02, que orienta ações para mitigação do risco bacteriano, adotou-se a estratégia de realização de hemocultura de grande volume para todas as plaquetas produzidas, com inoculação após 36 horas de armazenamento, a partir da data e horário da coleta, com período de incubação de 12 horas. Após coleta da unidade de plaquetas e registros de data e hora de coleta em planilha eletrônica, as unidades são armazenadas em local exclusivo aguardando resultados de sorologia e período de 36 horas para realizar coleta de amostra para testes de hemocultura. Após 36 horas, realizamos coletas de volume mínimo de 16 mL, subdivididas em 8 mL para inoculação em meio aeróbico e anaeróbico. Posteriormente as amostras foram encaminhadas para análise microbiológica e realização de cultura bacteriana e identificação automatizada dos microrganismos. Após a inoculação, aguardou-se 12 horas de incubação dos meios e somente após este prazo, verificou-se os resultados parciais para liberação das unidades de plaquetas ao estoque disponível à transfusão. Resultados: A realização de hemocultura com a estratégia adotada teve inicio no mês fevereiro de 2023. Até o mês de julho foram obtidos um total de resultados em 573 amostras de plaquetas coletadas por aférese e 135 amostras de pool de plaquetas, totalizando 708 inoculações efetuadas. Não houve crescimento microbiológico em nenhuma das amostras analisadas. Conclusão: A degermação com clorexina à 2% e o uso da clorexidina alcoólica a 0,5% para antissepsia, apresentaram eficácia comprovada através dos testes de validação de cultura pré e pós processo, não havendo crescimento bacteriano após o procedimento de antissepsia. Nossos resultados permitem concluir que é de grande importância uma degermação e antissepsia adequada do local de punção, pois evita que possíveis microrganismos entrem em contato com o sangue durante a coleta. É importante ressaltar que além do uso de produtos e técnicas de validadas, o treinamento contínuo da equipe de profissionais e a execução adequada somam ainda mais para a qualidade do produto. Testes de inspeção de selagem durante o fracionamento do sangue, para monitoramento de possíveis violações do sistema estéril e o controle rigoroso das temperaturas de armazenamento também são fatores cruciais para promoção do controle bacteriano.