Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
SAÚDE MENTAL DE PORTADORES DE TALASSEMIA E ANEMIA FALCIFORME: RELIGIOSIDADE COMO FATOR PROTETIVO
Abstract
Introdução/objetivos: Contidas no amplo espectro das doenças crônicas estão as doenças hematológicas crônicas, ou seja, aquelas que envolvem o comprometimento de diferentes componentes do sangue. Assim, o indivíduo portador de uma condição hematológica crônica não somente sofre das consequências que são comuns a qualquer tipo de doenças crônicas, como a necessidade de acompanhamento e atenção contínua sobre a condição e uma alta possibilidade de ter sua qualidade de vida afetada, mas também sofre de consequências específicas relacionadas ao diagnóstico hematológico e os tipos de tratamentos requeridos por ele. Nesse cenário, as doenças hematológicas crônicas, como a talassemia e a anemia falciforme causam quadros sintomáticos e comorbidades que persistem ao longo da vida do paciente e podem afetar qualidade de vida e o bem-estar subjetivo do portador. O objetivo deste estudo foi realizar o levantamento de sintomas psicológicos e verificar possíveis associações entre estes sintomas e variáveis sociodemográficas e clínicas. Método: Tratou-se de uma pesquisa quantitativa, descritiva e correlacional. A amostra foi composta por 50 pacientes, acompanhados em um Hemocentro do interior do estado de São Paulo, majoritariamente mulheres (52%, n = 26), média de idade de 32 anos (dp = 10,48), solteiras (64%%, n = 32), sem filhos ou dependentes (66%, n = 33), autodeclaradas brancas (52%, n = 26), com ensino médio completo (44%, n = 22), praticantes de alguma religião (62%, n = 32). Foram utilizados como instrumentos um questionário sociodemográfico e a escala Inventário Breve de Sintomas (BSI), que possibilita o levantamento de sintomas ligados à saúde mental, sendo eles divididos em nove dimensões (Somatização; Obsessivo-Compulsivo; Sensibilidade Interpessoal; Depressão; Ansiedade; Hostilidade; Ansiedade Fóbica; Ideação Paranóide e Psicoticismo). A coleta de dados foi realizada de forma individual e presencialmente nos retornos ambulatoriais dos pacientes. Os dados foram cotados segundo as recomendações técnicas, tabulados e submetidos à análise estatística. Resultados: Os resultados da análise descritiva indicaram que ao menos metade dos participantes apresentou nível alto ou muito alto de sintomatologia em cinco das nove dimensões avaliadas pelo instrumento. A análise correlacional apontou que pacientes que se consideram praticantes de alguma religião exibiram significativamente menos sintomas de distresse global quando comparados com aqueles que declararam não praticantes (p = 0,007). Conclusão: a religiosidade se mostrou um fator protetivo para pacientes portadores de doenças crônicas, proporcionando acolhimento espiritual e psicológico e permitindo o estabelecimento de redes de apoio e aceitação da própria condição de saúde. (FAPESP).