Antíteses (Apr 2024)
Escovar a literatura a contrapelo:
Abstract
O artigo analisa a literatura da escritora goiana Cora Coralina como um projeto de fabricação de antimonumentos. Ao se tornar uma voz dissonante no espaço literário e eleger os “silêncios da história” como centralidade de sua proposta, a poetiza fabricou um discurso contra hegemônico, exercício que caracterizou pelas ações de amar e cantar “com ternura todo o errado da [sua] terra”. A análise de alguns poemas e de um conto evidencia o modo como a escritora teceu imagens que corroboram a ideia de antimonumento. Quando contraria a ordem masculina do universo intelectual e ousa dizer, mesmo que proibida, Cora se converte em metáfora e metonímia de memórias subterrâneas. Sua teima em opinar quando ninguém ousava fazê-lo, fez de seu corpo uma âncora daquilo que a sociedade escolhera esquecer, apagar e detratar. Por fim apontamos ser a escritora, mantida viva na literatura e no Museu, um antimonumento, bem como a sua obra, espaços de recordações clandestinas e de lembranças furtivas sobre Goiás e a sociedade dos séculos XIX e XX.
Keywords