Antíteses (Apr 2024)

Escovar a literatura a contrapelo:

  • Clovis Carvalho Britto,
  • Paulo Brito do Prado,
  • Ludmila Santos Andrade

DOI
https://doi.org/10.5433/1984-3356.2023v16n32p674-706
Journal volume & issue
Vol. 16, no. 32

Abstract

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O artigo analisa a literatura da escritora goiana Cora Coralina como um projeto de fabricação de antimonumentos. Ao se tornar uma voz dissonante no espaço literário e eleger os “silêncios da história” como centralidade de sua proposta, a poetiza fabricou um discurso contra hegemônico, exercício que caracterizou pelas ações de amar e cantar “com ternura todo o errado da [sua] terra”. A análise de alguns poemas e de um conto evidencia o modo como a escritora teceu imagens que corroboram a ideia de antimonumento. Quando contraria a ordem masculina do universo intelectual e ousa dizer, mesmo que proibida, Cora se converte em metáfora e metonímia de memórias subterrâneas. Sua teima em opinar quando ninguém ousava fazê-lo, fez de seu corpo uma âncora daquilo que a sociedade escolhera esquecer, apagar e detratar. Por fim apontamos ser a escritora, mantida viva na literatura e no Museu, um antimonumento, bem como a sua obra, espaços de recordações clandestinas e de lembranças furtivas sobre Goiás e a sociedade dos séculos XIX e XX.

Keywords