Revista de Saúde Pública do Paraná (Dec 2024)
Cuidado compartilhado na rede de atenção psicossocial do município de Pinhais: articulações possíveis entre a unidade de saúde da família tarumã e o centro de atenção psicossocial regional I
Abstract
A Reforma Psiquiátrica provocou importantes transformações no cuidado em saúde mental, no que diz respeito às práticas, saberes e na busca por um novo lugar social para a loucura. Orientado pela perspectiva de Atenção Psicossocial, defende-se que o cuidado deve acontecer, prioritariamente, no território, a partir de uma rede integrada, a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Para um cuidado no território que seja integral, longitudinal e com participação dos sujeitos, faz-se fundamental a articulação entre os pontos de atenção da RAPS em conjunto com a rede intersetorial de políticas públicas. A partir da inserção da pesquisadora enquanto residente em cenários de prática no município de Pinhais, identificou-se fragilidades no cuidado compartilhado aos usuários, entre a Unidade de Saúde da Família Tarumã e o Centro de Atenção Psicossocial Regional I, refletindo na atenção à saúde para aqueles que em algum momento da vida estiveram em acompanhamento no CAPS. Dessa forma, foi proposta esta intervenção com o objetivo de contribuir para o processo de construção coletiva de estratégias para promover o cuidado compartilhado entre a USF Tarumã e o CAPS Regional I, no município de Pinhais. Nesse sentido, foi enviado questionário às equipes a fim de compreender como as(os) trabalhadoras(es) entendem o cuidado em saúde mental, e os desafios e potencialidades identificados na articulação da RAPS, com enfoque na relação entre Atenção Primária à Saúde e CAPS. As respostas orientaram os debates nos encontros coletivos. Assim, foram realizados dois encontros entre os(as) trabalhadores(as) dos referidos serviços e um encontro com as respectivas coordenadoras. Enquanto desdobramentos desta intervenção, menciona-se a aproximação entre as equipes, a construção de planilha compartilhada para o acompanhamento aos usuários, e construção de agenda compartilhada com previsão de espaço mensal para discussão de casos, e abertura para construção conjunta do Projeto Terapêutico Singular (PTS) dos(as) usuários(as). Criar espaços de discussão coletivas entre os serviços é parte fundamental de um trabalho que se propõe acontecer em rede, no entanto, não garante que as práticas e discussões sejam orientadas pela perspectiva de Atenção Psicossocial, sendo fundamental trazer a reflexão ética e política sobre o que orienta a prática no cotidiano de atuações nos serviços. A produção de saúde é possível quando o cuidado é centrado no sujeito e os sentidos e significados em perspectiva viabilizam a construção de Projetos Terapêuticos Singulares que contribuam para a promoção da cidadania, autonomia, produzindo vida no território. E práticas assim só são possíveis a partir do reconhecimento das pessoas enquanto sujeitos de direitos, com voz e com possibilidades de criar novas formas de viver.