Campos (Oct 2007)

“Remédio da Ciência” e “Remédio da Alma”: os usos da secreção do kambô (Phyllomedusa bicolor) nas cidades

  • Edilene Coffaci de Lima,
  • Beatriz Caiuby Labate

Journal volume & issue
Vol. 8, no. 1
pp. 71 – 90

Abstract

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Desde a metade da última década, em grandes cidades do Brasil, começou a se difundir o uso da secreção da rã arbórea Phyllomedusa bicolor, chamada de kambô. Tradicionalmente usada como revigorante e estimulante para caça por grupos indígenas do sudoeste amazônico (entre eles, Katukina, Yawanawa e Kaxinawá)2, nos centros urbanos tem havido um duplo interesse pelo kambô: como um “remédio da ciência” – no qual se exaltam suas propriedades bioquímicas – e como um “remédio da alma” – onde o que mais se valoriza é sua “origem indígena”. O kambô tem se difundido, sobretudo, em clínicas de terapias alternativas e no ambiente das religiões ayahuasqueiras brasileiras, isto é, entre adeptos do Santo Daime e da União do Vegetal e de suas dissidências. Os aplicadores são bastante diversos entre si: índios, seringueiros e ex-seringueiros, terapeutas holísticos, líderes ayahuasqueiros e médicos. Neste artigo apresentaremos uma breve etnografia da difusão do kambô, analisando, sobretudo, o discurso que esses diversos aplicadores têm elaborado sobre o uso da secreção3, compreendida por alguns como uma espécie de planta de poder, análoga ao peiote e à ayahuasca.

Keywords