Acta Médica Portuguesa (Nov 2018)

Dor Crónica Pós-Hernioplastia Inguinal em Regime de Ambulatório: Estudo de Coorte Retrospetivo

  • Patrícia Oliveira,
  • Ana Duarte,
  • André Guimarães,
  • Armindo Fernandes,
  • Catarina Ferreira,
  • Diana Amorim,
  • Filipa Gouveia,
  • Joana Almeida,
  • Madalena Braga,
  • Mariana Oliveira,
  • Mónica Durães,
  • Rita Pichel,
  • José Romão

DOI
https://doi.org/10.20344/amp.9381
Journal volume & issue
Vol. 31, no. 11
pp. 624 – 632

Abstract

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Introdução: A dor crónica pós-cirúrgica é a complicação tardia mais frequente da cirurgia de reparação de hérnia inguinal. Este trabalho visa determinar a incidência de dor crónica pós-hernioplastia inguinal em ambulatório no Centro Hospitalar do Porto, estudar a sua relação com determinadas variáveis descritas na literatura, avaliar as suas características e interferência funcional. Material e Métodos: Realizámos um estudo de coorte retrospetivo, entre fevereiro e maio de 2016, por entrevista telefónica estruturada composta por perguntas dos autores e secções de três questionários publicados, dois dos quais validados para a língua e cultura portuguesas. Incluímos os homens submetidos a hernioplastia inguinal, por laparotomia ou laparoscopia, em ambulatório, no Centro Hospitalar do Porto, entre janeiro de 2011 e outubro de 2015. Resultados: Na amostra final de 829 hernioplastias, a incidência de dor crónica pós-hernioplastia foi de 24,0% [intervalo de confiança: 21,2 - 27,1]. O desenvolvimento de dor crónica foi superior nos doentes com dor pré-cirúrgica, nos doentes mais jovens e relacionou-se com o momento de início da dor pós-cirúrgica. Não encontrámos relação com a via de abordagem, clássica ou laparoscópica. Dos indivíduos com dor crónica, 65,0% apresentaram dor ‘em média’ moderada ou forte e 37,7% apresentavam descritores sugestivos de dor de origem neuropática. A dor crónica pós-hernioplastia do ponto de vista funcional apenas ‘não interferiu completamente’ com o sono. Discussão: A prevalência encontrada de dor crónica pós-hernioplastia, com interferência funcional importante, é congruente com os dados disponíveis na literatura. O potencial preditor da presença de dor pré-cirúrgica e idade jovem do doente para o desenvolvimento de dor crónica pós-hernioplastia é também corroborado pela literatura. Tratando-se de um estudo de coorte retrospetivo, o estudo apresenta as limitações inerentes. Conclusão: A elevada prevalência de dor crónica pós-hernioplastia encontrada apontam para a urgência na sensibilização dos profissionais de saúde para esta problemática e otimização do follow-up, diagnóstico e tratamento da dor.

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