Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas (Apr 2021)

Pão-de-índio e massas vegetais: elos entre passado e presente na Amazônia indígena

  • Gilton Mendes dos Santos,
  • Daniel Cangussu,
  • Laura Pereira Furquim,
  • Jennifer Watling,
  • Eduardo Góes Neves

DOI
https://doi.org/10.1590/2178-2547-bgoeldi-2020-0012
Journal volume & issue
Vol. 16, no. 1

Abstract

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Resumo A elaboração de tecnologia de armazenamento de alimentos pelos povos indígenas da Amazônia é um tema descrito desde os relatos dos primeiros cronistas europeus na região. Frequentemente são encontrados, de maneira fortuita ou em sítios arqueológicos, artefatos culturais denominados ‘pães-de-índio’, presentes em diversos ambientes e bacias hidrográficas e relatados pelos moradores locais como um composto de plantas processadas e enterradas, comestíveis mesmo depois de anos enterrados. A partir da década de 1980, porém, uma série de trabalhos botânicos e micológicos vem classificando estes supostos pães como um fungo do gênero Pachyma Fr., Polyporus indigenus. Este artigo apresenta evidências arqueológicas, microbotânicas e etnográficas que mostram que pães-de-índio foram compostos preparados pelo processamento de espécies frutíferas e tuberosas, amplamente descritas pelos povos indígenas. Apresentamos os resultados da primeira tentativa de extrair grãos de amido de dois desses artefatos, os quais testaram positivamente para grãos de amido de milho, pimenta, batata-mairá e outras espécies de vegetais. Este texto dedica-se a demonstrar, ainda, que pães-de-índio são o testemunho do manejo e do uso da diversidade de plantas da floresta e do emprego de um conjunto de instrumentos e técnicas de produção com fins ao armazenamento de alimento.

Keywords