INVESTIGAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO ENTRE A EXPRESSÃO DOS GENES DA FAMÍLIA CARNITINA PALMITOILTRANSFERASE E AS CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS EM PACIENTES COM LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA

Abstract

Introdução: A leucemia mieloide aguda (LMA) é uma neoplasia hematológica de caráter clonal que afeta os progenitores hematopoiéticos. O processo de transformação é dependente da reprogramação do metabolismo celular induzida pelas alterações oncogênicas subjacentes. As alterações dos metabólitos causadas pela reprogramação metabólica induzida pelo câncer têm efeitos na expressão gênica, diferenciação e modulação do microambiente. Um importante efeito metabólico desta reprogramação é a desregulação do metabolismo de ácidos graxos que, apesar de representar um eixo metabólico importante, foi apenas recentemente associado a fisiopatologia da LMA e os resultados a respeito são escassos. O descobrimento de biomarcadores moleculares vem sendo utilizados cada vez mais para um melhor entendimento da heterogeneidade da doença. Dentre os biomarcadores existentes as proteínas da família Carnitina palmitoiltransferase (CPT) que em condições fisiológicas estão envolvidos no transporte de ácidos graxos para dentro das mitocôndrias, onde são oxidados para produção de energia. Objetivo: Investigar a associação da expressão dos genes da família Carnitina palmitoiltransferase (CPT) em pacientes com LMA. Metodologia: Foi realizada uma análise de coortes públicas de 121 pacientes com LMA, pelo banco de dados “The Cancer Genome Atlas” (TCGA), que expressavam os genes CPT1A, CPT1B, CPT1C e CPT2. Foram incluídos pacientes LMA não LPA e tratados com quimioterapia intensiva. Para os testes estatísticos foram realizados os testes de qui-quadrado e Mann-Whitney para análises de associação, e o teste de Log-rank para a curva de sobrevida global (OS) no software SPSS, sendo considerados significativos os resultados com p-valor < 0,05. Resultados e discussão: As análises da OS, nas quais o teste de log-rank, mostraram uma associação entre a alta expressão dos genes CPT1A (p-valor 0,026) e CPT1B (p-valor 0,009) a uma pior sobrevida desses indivíduos. O teste de qui-quadrado mostrou haver associação entre a classificação FAB e a expressão do gene CPT1A (p-valor < 0,001), com a análise dos resíduos padronizados ajustados mostrou que há mais casos com baixa expressão no subgrupo M4. Já o teste Mann-Whitney mostrou associação entre o aumento no número de leucócitos totais e o grupo de baixa expressão do gene CPT1C (p-valor 0,016). As demais variáveis clínicas como sexo, idade, percentual de blastos na medula óssea e estratificação de risco pelo “European leukemia Net 2022”, não apresentaram associação com a expressão gênica dos alvos estudados. Conclusão: A literatura relata um aumento da oxidação dos ácidos graxos com o processo de manutenção e quimioressistência das células troncos leucêmicas. As análises desse estudo da associação da alta expressão do gene CPT1A e CPT1B com uma pior sobrevida, servem para atuar como ponto inicial para um melhor entendimento e possível utilização desses genes como biomarcadores para um tratamento mais personalizado para pacientes que possuem um aumento na expressão desses alvos.