Brazilian Journal of Infectious Diseases (Oct 2023)

FATORES ASSOCIADOS A EVENTOS NEUROLÓGICOS EM PACIENTES COM ENDOCARDITE INFECCIOSA

  • Gustavo Campos Monteiro de Castro,
  • Nícolas de Albuquerque Pereira Feijóo,
  • Thatyane Veloso de Paula Amaral de Almeida,
  • Mariana Giorgi Barroso de Carvalho,
  • Clara Weksler,
  • Wilma Félix Golebiovski,
  • Giovanna Ferraiuoli Barbosa,
  • Rafael Quaresma Garrido,
  • Bruno Zappa,
  • Marcelo Goulart Correia,
  • Cristiane da Cruz Lamas

Journal volume & issue
Vol. 27
p. 103171

Abstract

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Introdução: Eventos neurológicos em pacientes com endocardite infecciosa (EI) são frequentes e impactam manejo e desfechos. Objetivo: Descrever eventos neurológicos em pacientes com EI e compará-lo com outros casos de EI na coorte. Métodos: Pacientes adultos com EI definitiva de acordo com os critérios de Duke modificados foram incluídos, prospectiva e consecutivamente, de 2006 a 2021. EI com eventos neurológicos (EIEN) foram evento isquêmico cerebral, evento isquêmico com transformação hemorrágica e hemorragia intracraniana, identificados por tomografia computadorizada de crânio realizada sistematicamente na EI esquerda. EIEN foi comparada aos demais pacientes com EI da coorte por teste de proporções. Análise estatística foi realizada com o software Jamovi e R Resultados: Eventos neurológicos ocorreram em 26,1% das EI. Não foi observado diferença entre sexo e idade entre os dois grupos, tampouco em relação ao local de aquisição ou tipo de válvula afetada. A valvopatia reumática (37,8% vs 28.3%, p = 0,046) foi a única predisposição que ocorreu com maior frequência nos EIEN. Não houve diferença na proporção de comorbidades (insuficiência cardíaca, insuficiência renal crônica e diabetes) dentre os grupos. Dentre as complicações, esplenomegalia (30,2% vs 15,3%, p < 0,001), aneurisma micótico (28,8% vs 2,7%, p < 0,001) e eventos vasculares embólicos para outros sítios (83,2% vs 31,3%, p < 0,001) foram os mais prevalentes na EIEN. Dos eventos embólicos, o local mais acometido além do sistema nervoso central (SNC) foi o baço, (60,3% vs 26,3%, p < 0,001). Pacientes transferidos apresentaram com maior frequência eventos embólicos para o SNC (59,5% vs 49,3%, p = 0,044). Pacientes com EIEN foram indicados para cirurgia cardíaca em uma proporção similar ao restante da coorte (82,4% vs 83,7%), no entanto, foram menos frequentemente operados (62,7% vs 79,1%, p < 0,001). A taxa de mortalidade dos pacientes na EIEN foi similar ao restante da coorte (23,4% vs 26,9%). Conclusão: Eventos neurológicos ocorreram em cerca de 1/4 dos pacientes da coorte, sendo mais associado a pacientes transferidos de outros hospitais e com EI por viridans, possivelmente pelo quadro arrastado de EI. O número de eventos embólicos (além dos neurológicos) e a incidência de aneurisma micótico foi maior nos pacientes com EIEN. Por fim, é importante ressaltar que os eventos neurológicos interferem diretamente na realização ou não da cirurgia, no entanto, a taxa de mortalidade foi similar ao restante da coorte.

Keywords