Revista de Educação Matemática (Sep 2021)

Ubiratan D`Ambrosio e a Decolonialidade na Etnomatemática

  • Claudio Fernandes da Costa

DOI
https://doi.org/10.37001/remat25269062v18id597
Journal volume & issue
Vol. 18, no. Edição Esp

Abstract

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Em tempos de crise político-econômica e de retrocesso democrático, agravados pela pandemia do Corona vírus, vivemos um ano de 2020 com continuidade em 2021, onde a face cruel e dramática da histórica exclusão social brasileira atingiu um patamar inimaginável em número de mortes, desempregados, subempregados e desvalidos, ou seja, de degradação do valor da vida, em especial da vida dos trabalhadores, dos mais pobres e dos idosos. É nesse contexto dramático que trazemos uma entrevista realizada com Ubiratan D`Ambrosio, o principal teórico da Etnomatemática, infelizmente falecido em 12 de maio de 2021, antes, portanto, de publicizarmos essa sua recentíssima contribuição. Nela poderemos constatar a potência e atualidade de sua formulação, já que se vincula à uma crítica contundente das formas dominantes e excludentes de conhecimento e de existência, defendendo em contrapartida uma concepção ontológica, histórica e dialética, onde a vida e as culturas, o ser humano e suas relações sociais e com a natureza, ocupam lugar central. Essa entrevista buscou, em sua organização e dinâmica, instigar D`Ambrosio a analisar possíveis relações entre teorias da decolonialidade e a Etnomatemática”, expressão cunhada por ele como síntese da sua definição sobre esta importante área da Educação Matemática. Diante da pandemia, optamos pela dinâmica de uma entrevista online que, apesar dos previsíveis problemas inerentes a este formato, acabou enriquecendo a reflexão nela desenvolvida. Neste sentido, D`Ambrosio explicitou a sua compreensão sobre processos e ideias coloniais/decoloniais, estabelecendo uma análise a partir de fundamentos do seu Programa Etnomatemática. Ao mesmo tempo, o pensador buscou contextualizar essa análise, abordando, na medida do possível, temas como globalização, tecnologia, “ensino” remoto, Base Nacional Comum Curricular, relações político-econômicas de poder e de saber. Portanto, acreditamos que a organização e, sobretudo, a dinâmica dessa entrevista, realizada e transcrita intencionalmente em linguagem coloquial, com a autorização do autor, produziu um conjunto de reflexões acerca do necessário diálogo entre ideias decoloniais e a Etnomatemática. Cumpriu, assim, o papel de provocar, instigar, mas também de vislumbrar alternativas necessárias nesse momento histórico que nos obriga a refletir profundamente sobre temas como conhecimento, exclusão e a própria existência humana. D`AMBROSIO PRESENTE!

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