Brazilian Journal of Infectious Diseases (Sep 2022)
HEMÓLISE INDUZIDA POR ARTESUNATO USADO PARA TRATAMENTO DE MALÁRIA GRAVE: RELATO DE CASO
Abstract
Introdução: A espécie Plasmodium falciparum é responsável por 90% dos casos de malária grave. Parcela dos casos detectados no Brasil são oriundos de viajantes provenientes de regiões endêmicas. Diferentes manifestações clínicas caracterizam o quadro grave, tais como alta parasitemia, anemia grave, lesão renal aguda, icterícia e manifestações neurológicas. O tratamento deve ser iniciado precocemente, sendo artesunato a droga de escolha. Hemólise é descrita como efeito adverso tardio incomum à droga. Objetivo: Relatar caso incomum de hemólise tardia induzida por artesunato. Método: Homem, 50 anos, admitido após retorno de viagem para Angola com queixa de febre (39,5°C), hiporexia, cefaleia, mialgia, náuseas, vômitos, dor abdominal e dispneia. Ao exame evidenciado hepatoesplenomegalia, sem sintomas neurológicos. Realizado exame de gota espessa com detecção de incontáveis parasitas morfologicamente compatíveis com P. falciparum e teste rápido também positivo. Exames laboratoriais: Hb: 13.4 G/dL, Leucócitos: 2.500/μL, Plaquetas: 10.000/μL, Creatinina: 3.5 mg/dL, Bilirrubinas totais: 6.3 mg/dL, Bilirrubina direta: 4.1 mg/dL, Lactato: 6mmol/l. Pela gravidade, iniciado artesunato endovenoso, que foi mantido durante 4 dias, associado à dose única de primaquina. Posteriormente, transicionado para artesunato e mefloquina oral. Paciente apresentou melhora clínica progressiva, recuperação da função renal e normalização de provas de hemólise nos dias subsequentes. Parasitemia negativou após 7 dias do tratamento. Porém, 8 dias após o início do tratamento evoluiu com queda progressiva de hemoglobina, chegando a 5,9 G/dL, além de nova elevação de todas as provas de hemólise. Realizado teste para deficiência de G6PD, com resultado negativo, excluindo-se hemólise induzida pela primaquina. Houve necessidade transfusional três vezes. Nas 3 semanas seguintes, a evidência de hemólise persistiu, porém sem instituição de nenhum tratamento específico, com subsequente recuperação progressiva. Paciente segue assintomático e com normalização dos exames. Resultados: A hemólise é achada bastante frequente no curso da malária, porém aquela detectada após recuperação do quadro (tardia) pode ser induzida pelo uso do artesunato. Trata-se de quadro não totalmente esclarecido, podendo ocorrer poucos dias a 4 semanas após uso da medicação. Não há tratamento específico, apenas suporte transfusional se necessário. Conclusão: A suspeição do diagnóstico e o seguimento dos níveis de hemoglobina até um mês após tratamento com artesunato são fundamentais.