Hematology, Transfusion and Cell Therapy (Oct 2024)
EFEITO SINÉRGICO DA COMBINAÇÃO TAMOXIFENO E RUXOLITINIBE NA REDUÇÃO DA CARGA TUMORAL EM NEOPLASIAS MIELOPROLIFERATIVAS
Abstract
O inibidor de JAK1/2 aprovado pela FDA, Ruxolitinibe (Ruxo), é utilizado para tratar pacientes com neoplasias mieloproliferativas (NMP), oferecendo boa tolerabilidade e redução dos sintomas constitucionais. No entanto, o efeito do Ruxo na erradicação da célula iniciadora da leucemia é limitado. O estudo clínico TAMARIM mostrou que a monoterapia com tamoxifeno (Tam) reduziu a carga do alelo mutante em 13% dos pacientes. Aqui, exploramos se a combinação Ruxo+Tam poderia proporcionar um controle superior da doença em modelos pré-clínicos de NMP. In vitro, a terapia combinada de Ruxo (1-10 μM) e Tam (0,3-3 μM) por 72 horas exibiu forte efeito sinérgico (ZIP score = 24,4) na linhagem celular HEL. O tratamento com Ruxo ou Tam isoladamente reduziu o potencial da membrana mitocondrial (PMM) e as taxas de consumo de oxigênio em células HEL. Esses efeitos foram significativamente aprimorados com a combinação de Ruxo e Tam, sugerindo uma modulação do metabolismo mitocondrial como um mecanismo comum de ambos os fármacos. Para amostras primárias de NMP, realizamos triagem de fármacos ex vivo em 20 amostras de medula óssea (MO). A monoterapia com Ruxo (0,3-1 μM) não induziu apoptose de forma significativa, contudo a monoterapia com Tam ou em combinação com Ruxo induziu apoptose e reduziu o PMM em blastos (CD34+). A análise funcional da respiração confirmou diminuição do metabolismo mitocondrial tanto na monoterapia com Tam quanto na combinação Ruxo+Tam em amostras de NMP tratadas ex vivo. A análise por citometria de fluxo identificou uma população de blastos de NMP expressando CD36 associada à resistência à monoterapia com Tam. Essa resistência, contudo, pôde ser superada com a combinação com Ruxo. Para explorar os efeitos da terapia Ruxo+Tam in vivo, transplantamos 5 × 106 células da MO de um modelo murino de NMP JAK2 V617F (CD45.2) em camundongos B6 PepBoy irradiados letalmente (CD45.1). Quatro semanas após o transplante os camundongos foram randomizados em 4 grupos: veículo, Tam (75 mg/kg, intraperitoneal, 1 vez ao dia), Ruxo (120 mg/kg, oral, 2 vezes ao dia) e combinação Ruxo+Tam. Os camundongos foram tratados diariamente por 8 semanas e amostras de sangue periférico foram coletadas quinzenalmente para monitorar quimerismo, frequências de células imunes e contagens hematológicas. A análise de quimerismo mostrou uma redução significativa nas células CD45.2 a partir da semana 6 apenas no grupo Ruxo+Tam. A análise das células imunes no grupo Ruxo+Tam revelou uma redução na fração de células mieloides, o que foi associado à diminuição do PMM, sugerindo a modulação do metabolismo mitocondrial nestas células. Além disso, a terapia combinada resultou em uma diminuição significativa nas células CD36+ na semana 2. A análise hematológica indicou uma forte redução nos níveis de leucócitos, plaquetas e hematócrito a partir da semana 2 no grupo Ruxo+Tam, indicando um maior controle da doença. Em resumo, nossos dados apoiam a justificativa para usar a terapia combinada de Ruxo+Tam no tratamento de NMP. Demonstramos que ambos os fármacos atuam modulando o metabolismo mitocondrial, um efeito que é aprimorado quando usados em combinação, superando a resistência observada com as monoterapias. Além disso, Tam é um fármaco de baixo custo e sua incorporação na prática clínica poderia ser viável e benéfica em países de baixa e média renda. Esses achados apoiam a realização de novos estudos clínicos para explorar a eficácia dessa terapia combinada para pacientes com NMP.