Convergência Lusíada (Jun 2007)
A genealogia do pensamento utopista de Agostinho da Silva
Abstract
Agostinho da Silva costumava dizer que a melhor maneira de se ser moderno e revolucionário no século XX era ser-se conservador do século XIII. O paradoxo -de que se nutriu, aliás, com estimulante produtividade heurística o seu discurso poético-filosófico -deste seu enunciado combinam categorias antinómicas (revolucionário e conservador) e tempos históricos descontínuos e inconvertíveis (século XIII e século XX), não com a finalidade de formular uma irónica aporia, mas tão-somente de apontar uma possibilidade axiológica transtemporal. O século XIII a que Agostinho se refere é o século da introdução em Portugal, no reinado de D. Dinis, do culto do Espírito Santo e da difusão da teologia da história joaquimita (de Joaquim de Fiore). Como se sabe, o sentido teleológico da visão do curso da história joaquimita apontava para a eminente e necessária instauração de uma era de plena e amorável realização do ser humano sob a directa inspiração da imprevisível graça da terceira pessoa da Santíssima Trindade. Na nossa comunicação, mais do que insistir na congenialidade dos traços dominantes do pensamento de Agostinho da Silva com as ramificações da teologia joaquimita no espiritualismo franciscano, procuraremos reflectir sobre a sua inserção num veio do pensamento europeu que podemos designar de milenaristautópico, o qual teve também como eminente cultor um certo Fernando Pessoa.